sábado, 17 de outubro de 2020

PERIGO: RAÇA HUMANA



     Não é de hoje que se ouve falar em certas raças de cães que carregam o estigma de violentas e traiçoeiras. Dentre estas, está o pitbull, o rottweiler, o fila e o chow-chow. Isso porque nem todos os animais aceitam de bom grado os maus tratos que são infligidos aos cachorros sem raça definida ou de menor porte. Cada cachorro tem o seu temperamento próprio que pode ser açucarado ou apimentado de acordo com a criação que recebe desde as primeiras semanas de vida. A sua personalidade vai sendo construída a partir do seu nascimento e à medida em que cresce se acentua ainda mais para o lado  da mansidão ou da fúria conforme as informações positivas ou negativas que acumula ao longo da sua existência. Os cães se baseiam unicamente no instinto de autodefesa, defesa do seu território e defesa do seu dono. Eles não têm a capacidade de raciocínio para saber o que é certo e o que é errado. Mas, o seu proprietário tem e, portanto, ele é o único responsável por tudo o que o seu animal fizer contra a sua família ou a terceiros.

     Qualquer cão confinado a um espaço reduzido, acorrentado ou não, onde não tenha contato com outros cães ou outras pessoas além do seu protetor, desenvolverá uma natureza antissocial e doentia.


     Desde filhote, ele precisa se sentir aceito e amado. Precisa de colo tanto quanto um bebê humano. Precisa ser acarinhado por todos da família, pelos vizinhos e amigos do seu dono para que no futuro não venha a estranhá-los. Precisa ir a um Pet para tomar banho e entrar em contato com outros cãezinhos de raças diferentes. Precisa ir se familiarizando com a vizinhança, com os estranhos que passam por ele na rua e com os latidos de outros que o observam de longe. Se o proprietário do cãozinho não tiver esses cuidados desde o início, dificilmente ele poderá controlá-lo quando adulto.

     Antes de se adquirir um cão de raça, é necessário que se faça um levantamento sobre a origem do filhote em questão. Geralmente quando cachorros da mesma ninhada se cruzam, os filhotes que nascerem dessa relação de parentesco tendem a ter um comportamento agressivo e fora do normal aos padrões estabelecidos. Se não quiser ter surpresas desagradáveis mais adiante, investigue antes o histórico do animal. Descartada a hipótese de uma origem incestuosa, o comportamento do cãozinho vai depender exclusivamente da educação que o seu dono proporcionar. Portanto, não basta dar uma excelente ração e água em abundância, banhos mensais nos melhores Pets da cidade e uma caminha quente e macia num local adequado a um bom descanso. Isso não é suficiente se o dono não tiver tempo para passear com o cão, levá-lo ao veterinário quando notar que algo inusitado está acontecendo. Ou seja, ele é um ser vivo e, portanto, merecedor de atenção e cuidados.

     A cada dia cresce o número de cães abandonados nas ruas. Deixados para trás por motivo de viagem, mudança ou descaso mesmo. O que fazer, então? Paralelamente ao abandono, também tem crescido o número de cães que são adotados por pessoas que se compadecem da sua situação. Mas, isso não é o suficiente. As pessoas precisam se conscientizar que um cãozinho não é um brinquedo que a qualquer momento pode ser descartado. Precisam saber que todo cãozinho nasce inocente, frágil e carente de amor. Se eles forem criados sem gritos, longe de ruídos estrondosos, em ótima companhia e passeios regulares, há grandes possibilidades de se tornarem cães tranquilos, bons companheiros e dóceis, por mais que a sua raça carregue a fama de brava.

      Espero que as pessoas percebam, dentro de pouco tempo, que o rottweiler, o pitbull, o fila e o chow-chow não são culpados por esse estigma de cachorros sanguinários e sim o homem que não sabe educá-los da maneira correta. A raça humana é a mais perigosa que, visando um lucro sujo e repugnante, incentiva a violência com rinhas de galo clandestinas e as famosas touradas; que comercializa animais sem os devidos cuidados quanto a procedência dos mesmos; que mata pelo simples prazer de matar; que usa a inteligência para o mal e trata os animais como meros produtos de reprodução em massa. Desconfiemos dos homens que não gostam de cachorros mas confiemos de olhos fechados nos cachorros que não gostam de certos homens.

                                                    Elisabeth Souza Ferreira

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