segunda-feira, 19 de outubro de 2020

VÁRIOS CAMINHOS


        Desde criança vivenciei diversas experiências psíquicas que me permitiram sentir e visualizar a realidade existente em outras dimensões, desenvolvendo assim uma fé inabalável em Deus e a busca incessante para encontrá-lO pelos mais diferentes caminhos.







       Ao longo dessa caminhada, me deparei com situações bizarras e muitas vezes constrangedoras.

     Certa vez, cheguei num alojamento onde ficaria hospedada por alguns dias para realizar um retiro espiritual. O espaço físico era enorme. Havia uma infinidade de beliches espalhadas por todas as direções. A moça da Secretaria onde entreguei a minha ficha de inscrição devidamente paga me dissera que eu poderia pegar qualquer cama que estivesse desocupada. Mas nenhuma parecia estar disponível. Havia toalhas e roupas estendidas por cima de todas as camas.  Um verdadeiro rebuliço.  Não existiam guarda-roupas.  Apenas as malas e sacolas dos participantes ficavam ao lado ou próximas de cada vaga. Andei por tudo e não encontrei nenhum lugar onde pudesse me sentir a vontade para deitar depois da longa viagem que fizera.  Lá dentro tínhamos que andar só de meias porque era proibido usar qualquer tipo de calçado.  Eles ficavam do lado de fora numa estante baixinha próxima à porta de entrada.  O banheiro era coletivo. Tinha a ala feminina e a ala masculina.  Mesmo se a pessoa fosse acompanhada, na hora de dormir tinha que se separar do seu companheiro e só voltar a encontrá-lo na hora das refeições ou das orações. Ao retornar à Secretaria, falei com a moça novamente e disse não ter achado nenhum lugar livre para acomodar as minhas coisas. Ela, então, se dispôs a me acompanhar até lá  e me apontar a que não estivesse ocupada. Caminhamos juntas até os fundos do enorme pavilhão e voltamos. Ela estranhou mesmo o modo como estavam estendidas as toalhas e reafirmou para mim que existiam camas liberadas mas também não estava sabendo identificá-las. Então, puxou uma toalha que cobria a cama de cima de um dos beliches perto da porta  e disse para mim que eu poderia ficar com aquela. Garantiu-me que não haveria problema. Sendo assim, coloquei meu pijama e deitei. Minha mala ficara ao lado na parte de baixo. Estava exausta. Dormi algumas horas. Acordei com alguém resmungando ferozmente por perto. Inclinei-me para ver quem era. Havia uma mulher aparentemente muda olhando para mim com olhos raivosos e gesticulando nervosamente enquanto soltava uns sons grotescos.  Interpretei aquilo como o contrário de boas vindas porque parecia que eu tinha pegado a cama dela. Mas continuei ali e só saí bem mais tarde. Cada vez que eu me encontrava com a dita cuja pelos corredores ou na sala do refeitório, resmungava para mim e me olhava cheia de ódio. Senti um mal-estar porque não tive culpa. A secretária me falou que não haveria problema. No segundo ou terceiro dia é que fui entender o comportamento da tal mulher. Ela havia feito votos de silêncio. E por isso é que não podia falar comigo. Mas não era muda como eu pensava. Mais tarde fiquei sabendo o porquê de sua indignação. A queridinha não gostava que ninguém ocupasse a cama de cima de seu beliche. Só por isso. O cúmulo do egoísmo. O beliche não era dela.  Achei um absurdo. De que adianta votos de silêncio se o olhar está destilando ódio para todos os lados? O que faz uma pessoa desse tipo achar que votos de silêncio são suficientes para um retiro espiritual se o coração está tomado pela raiva? Não são os votos de silêncio que vão fazê-la evoluir.  O mínimo que teria que treinar ali seria a paciência e a compaixão. Foi terrível.

     Em outra ocasião, emprestei um imóvel para um grupo budista se reunir uma ou duas vezes por semana. Eles tinham um altar onde colocavam oferendas de água, incenso e alguns alimentos para as deidades. Até aí, tudo bem. Acontece que uma noite entrou um rato e se escondeu num dos cantos e ninguém conseguia achá-lo. Virou uma comédia porque eles não queriam que o rato fosse morto porque segundo os ensinamentos budistas, não se deve matar nenhum ser vivo. E eu não concordei com isso. Como é que ia permitir que fizessem criação de rato lá dentro? Reclamei mas não adiantou. Uma pessoa amiga me sugeriu  colocar pedaços de queijo com veneno. Pois bem, ela foi lá e passou em um dos lados apenas. O bicho era tão esperto que virava o queijo e comia apenas a parte que não tinha o veneno. A casquinha envenenada ficava lá para todo mundo ver.  E o rato engordando  cada vez mais. E a gente não sabia aonde o bicho tinha se escondido. Um dia eles reclamaram que havia um cheiro terrível de urina na cozinha e que só poderia ser dos meus cachorros que ficavam nos fundos. Pediram-me para eu dar um jeito. Fui até lá e mostrei que havia lavado tudo. Dos meus cães não era. Claro que só podia ser a urina do rato. Descobri que ele estava escondido atrás de um velho fogão de seis bocas. Mas ele não ficava só lá. Ele perambulava por toda a casa. Havia cocô dele por tudo. Era nojento. E dava para calcular que era um bicho grande. Certo dia, eu estava lá e ouvi barulho num dos quartos. Corri e fechei a porta. No quarto ficaria mais fácil capturá-lo. O bicho já tinha estragado a porta. Chegou a tirar a tinta da mesma de tanto arranhar. Veio um amigo meu com uma gaiola de hamster para tentar pegá-lo. Ficou sozinho no quarto arredando guarda-roupa, sacudindo cortina e empurrando cômodas para todos os lados até que o localizou. Pediu uma vassoura. E depois de algumas vassoradas, o rato voou da cortina para cima de uma cômoda. Mas não morreu. Sua barriga estava arfando. Meu amigo mais que depressa o colocou na gaiola e o levou embora. Soltou-o no mato com vida e nos livramos dessa criatura que só fazia sujeira, além do perigo em transmitir doenças. Isso é mais um exemplo do quanto as pessoas tomam ao pé da letra os ensinamentos deixados pelos mestres do passado.  Ora, então, se não podemos matar nenhum ser vivo, teremos que deixar uma cobra ou aranha venenosa picar uma pessoa sem nada fazer para impedi-la? Teremos que deixar a vontade um enxame de abelhas picar uma criança que não pode se defender? Teremos que suportar picadas dos mosquitos borrachudos no verão sem nada usar?  Não há ninguém nesse mundo que não mate todos os dias sem querer algum ser vivo. Basta caminhar na rua ou na grama. Não dá para contar a quantidade de formigas que morrem sob os nossos pés enquanto caminhamos em casa ou no trabalho, na escola ou na própria Igreja. Acho que a nossa preocupação  deve se voltar mais às milhares de pessoas inocentes que são mortas diariamente  e o que podemos fazer a respeito para evitar o avanço dessa criminalidade galopante que o nosso país enfrenta nos últimos anos.  Baratas, moscas, cobras, aranhas e escorpiões  não devem ser a nossa prioridade. Há animais, contudo, que merecem os nossos cuidados.  Animais de estimação que nos acompanham sempre e não fazem mal a ninguém. Esses sim merecem o nosso respeito e podemos defender a qualquer custo.

        Outra ideia que eu considero errônea em várias religiões é que se a pessoa quiser se afastar depois de ter frequentado por um certo período, receberá uma avalanche de forças negativas que a impedirão de alcançar a felicidade no futuro.  Quando eu comentei no Centro Espírita que conseguia sair fora do corpo todas as noites fui severamente repreendida pelos mais velhos para que não voltasse mais a fazer isso sob pena de me perder no astral e não poder mais retornar. Ora, falavam isso sem conhecimento de causa como se eu pudesse evitar a saída noturna. Todos nós saímos do corpo quando dormimos. A única diferença é que eu saio de forma consciente e a maioria das pessoas sai sem perceber que está saindo. Depois que acordam contam ter sonhado que estiveram em outros lugares, que se encontraram com pessoas vivas e mortas, enfim, e tudo parecia tão real... E era. Não há como nos perdermos. Enquanto o nosso corpo tiver vida, ou seja, houver bateria em nosso veículo carnal, não podemos nos afastar completamente, apenas de forma temporária. Saímos e voltamos. Estamos presos a ele por um cordão umbilical invisível que só se romperá com a morte. Uma coisa é a teoria. Outra é a experiência prática. Eu tenho a prática. Depois, quando eu falei que iria deixar de frequentar as sessões espíritas em definitivo fui advertida de que iria perder todos os meus dons caso isso realmente acontecesse.  Que eu ficaria sem proteção nenhuma e que os maus espíritos tomariam conta de mim. Pois foi exatamente o contrário que aconteceu. Saí do Centro Espírita e passei a estudar e frequentar diversas religiões  e automaticamente as perturbações que eu tive naquele período acabaram e eu pude me sentir livre e forte para comandar a minha própria vida. Não só não perdi os meus dons como apareceu outro que eu nem sabia que tinha e passei a trabalhar com ele por um longo período. As religiões não gostam de perder os seus fieis. É por esse motivo que tentam amedrontar os frequentadores para que não abandonem aquele caminho. Como se aquele caminho fosse o único verdadeiro. Ora, não existe mais nenhuma religião que possa se arvorar ter a absoluta verdade. Todas estão deturpadas pelos próprios homens que as conduzem. A única coisa verdadeira que deve prevalecer sempre e acima de tudo é a fé em Deus. Eu não deixei de acreditar nos ensinamentos espíritas e nem descarto o conhecimento budista que adquiri mais tarde.  Simplesmente não quero me confessar como adepta dessa ou daquela religião. Tenho as minhas ideias próprias e não aceito tudo o que me oferecem. Prefiro ser eclética. Ir aonde me der vontade. Acreditar no que eu sinto ser verdadeiro.

       Cabe às pessoas buscarem o melhor caminho segundo o seu entendimento. O que é bom para mim, talvez, não seja o ideal para os outros. E o que é perfeito para os outros, talvez, seja ultrapassado para mim. Portanto, não julgo quem fica nem quem sai. Estamos nesse mundo para aprender e, através da aprendizagem, evoluímos. Cada um no seu ritmo. Sem apressar as coisas porque a paz é fundamental.

                                                             Elisabeth Souza Ferreira

                                              

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