Quando iniciei o meu desenvolvimento mediúnico
no Centro Espírita Bezerra de Menezes, tive a oportunidade de conhecer e
conviver com grandes mulheres que muito me ensinaram com seus exemplos e
experiências. Dentre estas, uma bem jovem e mãe de três filhos pequenos, que
mais tarde vieram a ser meus alunos do curso de evangelização, deixou-me
bastante intrigada desde o começo. A primeira impressão que se tinha ao
observá-la, era de que se tratava de uma pessoa normal, elegante e bonita. Mas,
quando ela falava, aparecia um papo em seu pescoço e sua voz ficava um pouco
rouca. À medida em que o tempo passava e
ganhávamos um certo grau de intimidade
uma com a outra, certa vez, criei coragem e perguntei-lhe se ela sofria de
algum problema na tireóide que justificasse aquela saliência sempre presente
nas conversações. Ela contou abertamente para todo o grupo a razão daquilo
acontecer. Deixou-nos pasmos com a sua explicação. Na verdade, não era nenhuma
doença. Ela sofria tanto por causa de seu casamento fracassado, marido violento
e viciado em álcool que, um dia, não aguentando mais tanta pressão, resolvera
tomar soda cáustica para ver se conseguia ir logo para o outro lado. Como não
conseguira o seu intento, tinha que conviver, além do inferno em família, com a
sequela que ficou de sua atitude impulsiva e nefasta. Naquela altura, ao ver a
nossa expressão horrorizada de um silêncio estarrecedor e, antes que fizéssemos
a pergunta que não queria calar, ela nos disse que não se separava do marido
porque era espírita e esse era o seu carma. E seguia a vida aos trancos e
barrancos, tendo três crianças para criar e sofrer junto com ela. Morou
bastante tempo em Passo Fundo e depois se mudou para Porto Alegre, a princípio
e acabamos perdendo o contato. Não sei o que aconteceu com ela depois disso.
Outro caso semelhante foi de uma senhora muito querida e simpática que
participava das nossas reuniões e tinha uma visível aparência de quem sofrera
um derrame muito severo pois estava cega de um olho, o rosto repuxado para um
lado como se tivesse tido um espasmo grave e uma certa dificuldade para
caminhar. Certa ocasião, contou-nos que tinha sido uma mulher muito bonita
antes de sofrer um ataque violento do marido (alcoolizado provavelmente) que a
levantou pelo pescoço e fincou-lhe a cabeça repetidas vezes contra a parede, o
que fez surgir, dentro de pouco tempo, um câncer na cabeça. O tumor pôde ser
removido com sucesso mas o fato de ter passado por uma cirurgia delicada
deixou-lhe essa sequela terrível para o resto da sua vida. Ela também dizia que
não se separava porque era espírita e esse era o seu carma. Essa grande
guerreira aguentou firme o tempo todo e hoje está bem melhor, viúva e seguindo
em frente a sua vida, estudando e fazendo as suas peças de artesanato. Estes
dois casos servem para ilustrar o drama por que passam milhares de mulheres em
todo o mundo que sofrem violência doméstica e se calam em nome da religião, com
medo da danação eterna. Isso sem falar nos outros tipos de violência que
ocorrem nas ruas, nos ônibus, nas escolas, no Brasil e no resto do mundo que
não são denunciados e, por isso mesmo, nem sempre chegam ao nosso conhecimento.
O mundo está evoluindo, ou pelo
menos, era para estar com toda essa tecnologia avançada e, portanto, não era
mais para se ter notícias impactantes como essas que diariamente nos são
apresentadas por todos os veículos de comunicação, causando-nos uma sensação de
insegurança e impunidade.
O machismo está fora de moda mas
ainda hoje se percebem uns doentes que insistem em tratar as companheiras como
seres inferiores, que não têm a mesma capacidade intelectual que eles acham que
têm e isso para justificar escravizá-las na cozinha e nos afazeres domésticos
quase sempre enfadonhos e estressantes.
O machismo está fora de moda mas
ainda hoje se encontram uns doentes que não respeitam as colegas de trabalho e
soltam piadinhas indecorosas que, segundo a visão deles, deveriam ser
consideradas como um elogio e não como um verdadeiro assédio. O que para eles é
engraçado, para as mulheres é nojento e chocante.
O machismo está fora de moda mas
ainda hoje se acham uns doentes que vivem com a mentalidade pré-histórica que,
quando sentem falta de uma fêmea, agarram à força a primeira que aparecer em
seu caminho, esquecendo-se, ou melhor, ignorando que seria bem mais fácil e
aprazível conquistá-la com a simpatia e bons modos.
O machismo está fora de moda mas
ainda hoje existem uns doentes que se acham no direito de abusar das enteadas,
das afilhadas, das próprias filhas e das filhas dos vizinhos porque estão
dentro da sua própria casa e por isso mesmo disponíveis para tirarem vantagem
dessa situação.
Nada, absolutamente
nada, justifica a violência do homem contra a mulher; do forte contra o mais
fraco; do poderoso contra o indefeso. Nenhuma mulher deve aguentar calada o
exercício machista sobre si mesma. Nenhuma religião vai salvá-la. Ninguém na
rua ou dentro de casa irá acudí-la se ela não der o primeiro grito de
socorro. Ninguém poderá adivinhar o
drama em que ela vive se não tiver a coragem
de abrir a porta e sair do inferno em busca de conforto e paz. Ninguém
tem obrigação de tolerar os maus tratos a vida inteira. Ninguém precisa fazer o
que não tem vontade. A violência só pode ser evitada quando a mulher deixa de
ter medo e resolve lutar. Lutar, em primeiro lugar, pela sua integridade
física, pela sua liberdade, pelo seu direito de ir e vir, pela sua voz e vez,
pela sua dignidade e de seus filhos, por uma sociedade mais justa. E essa luta
não se ganha ao lado do opressor, passando-lhe a mão na cabeça na esperança de
que amanhã ele será melhor. Essa luta se vence bem longe dele, denunciando a
violência, afastando-se dela porque ninguém vem ao mundo para sofrer e sim para
viver em busca dos mesmos direitos a liberdade, a felicidade e ao amor.
Elisabeth
Souza Ferreira
Reflexão para o Dia
Internacional da Mulher
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