domingo, 28 de fevereiro de 2021
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021
domingo, 31 de janeiro de 2021
AVERSÃO E AMIZADE
A pessoa que mais nos irrita é a que mais se nos assemelha, porque funciona como um espelho. Reflete tudo o que somos e o que, inconscientemente, queremos eliminar da nossa vida. Mas, o objeto da nossa aversão nunca nos é colocado, por acaso, a nossa frente.
Quando gostamos de alguém, sentimos que a outra
pessoa nos completa - que tem tudo de bom para nos oferecer - encaixamo-nos
perfeitamente a ela como se fôssemos peças de um mesmo quebra-cabeça. E, é aí
que nos enganamos, achando que somos iguais. Mas, na verdade, somos bem
diferentes, porque o que falta lá, excede aqui e o que excede nela, falta em
nós. Por isso, temos a satisfação de ficarmos juntos. Estas pessoas nos fazem
bem. Massegeiam o nosso ego o tempo todo, porém não nos tornam melhores do que
somos. No entanto, as pessoas que detestamos, pelo fato de terem muitos
aspectos da personalidade semelhantes aos nossos, parecem nos fazer mal,
causando-nos desconforto - até o simples olhar delas nos incomoda; a presença
delas é um estorvo - parecem não ter nada para nos acrescentar à vida e não têm
nada mesmo além do que já temos. Elas apenas refletem o que somos - são elas
que se parecem conosco - o que tem do outro lado também tem aqui deste lado. E
isso nos irrita. É o mesmo que nos observar no espelho pela manhã: os cabelos
despenteados, os olhos inchados - isso nos incomoda. Contudo, é assim que
somos. Os nossos "inimigos" nos fazem ver como realmente somos
e não como gostaríamos de ser. Passamos a odiá-los, entretanto, estamos
sentindo repulsa pelos aspectos negativos que temos. Quando damos as costas
para essas pessoas, estamos perdendo uma valiosa oportunidade de crescimento.
Se os encontros são esporádicos é o mesmo que observarmos a nossa imagem
refletida nas vitrines por onde passamos, muitas vezes sem prestarmos a devida
atenção. Estamos apenas dando uma olhadela no que não gostamos. O que
temos em nosso coração nos está sendo mostrado como um trailer de filme.
Se tivermos que conviver com alguém de quem não
gostamos, não só precisaremos saber o que precisa ser corrigido em nós mas
também deveremos aprender a nos corrigir. Somente essa pessoa poderá nos
ensinar - ela nos mostrará como realmente somos. Não aprenderemos a lição se
nos afastarmos dela. Não será com agressões que a eliminaremos da nossa
mente. Ela até poderá ir embora para muito longe, deixando assim de cumprir o
seu papel de nos ensinar a aprender conosco. Porque essa lição é mútua.
Não somos apenas nós que devemos aprender, mas ela também, porque nós temos
algo para ensinar-lhe. Quando temos conexões cármicas, o carma só se elimina
ficando junto. Quanto maior for a antipatia, mais coisas temos a aprender com
quem antipatizamos.
Poderemos ter a certeza de que estamos aprendendo a
nos corrigir, quando começamos a ver que o outro não é tão ruim quanto os
nossos sentidos nos faziam perceber anteriormente, quando perdermos a vontade
de falar mal dele, quando não desejamos mais vê-lo pelas costas. O importante é
ver que esse alguém que detestamos é igual a nós, por mais que não
identifiquemos de imediato as semelhanças e que, como nós, também tem direito
de seguir em frente, aprendendo sempre mais com os prazeres e os dissabores que
cada nova existência tem para nos apresentar.
Elisabeth Souza Ferreira
ORAÇÃO DO GAITEIRO
Patrão do Céu, abençoa este
gaiteiro que Te chama
Através do dedilhar desta velha
gaita que geme e suspira
Inspirado no minuano que sopra
com a força de quem mais ama
Transformando em prece a melodia
doce que cria.
Patrão do Céu, abençoa este
gaiteiro jovem que se esforça para aprender
No balanço agitado que insinua um
falso conhecer
Das notas benditas que toca com a
emoção que faz bater o pé
De um lado para o outro, se
entesa e se inclina
Enquanto que a todos, aos poucos,
encanta e fascina!
Patrão do Céu, abençoa este velho
gaiteiro que já cansado pelas lides campeiras
Mal consegue segurar o próprio
acordeão.
Com os dedos calejados e as
costas curvadas para a frente
Nas tuas mãos entrega, com a
consciência tranquila,
Embrulhado num fino lenço,
O próprio coração!
Patrão do Céu, abençoa toda a
nossa gente, a nossa querência amada
Estes peões e prendas espalhados
por esta terra abençoada
Para que a tradição gaúcha nunca
deixe de existir, nem agora nem num distante porvir
E que a gaita seja sempre a nossa
oração
O canto de louvor a Ti, Patrão do Céu,
Nosso modelo eterno de paz e
gratidão!
ELISABETH SOUZA FERREIRA
SIMPLESMENTE MARCELO
Sempre gostei de programas policiais que retratam a realidade
dos fatos no nosso país, mostrando o que acontece nos bastidores das grandes e
pequenas cidades e que nem sempre a
gente fica sabendo por falta de acesso a esse tipo de informação. Muita gente
julga que isso não passa de um sensacionalismo barato que visa por meios
estratégicos fazer o papel de maus formadores de opinião. Por diversas vezes
ouvi comentários negativos a minha postura não só por me revelar uma
telespectadora assídua bem como uma grande defensora de tais programas. Certas
pessoas que se consideram muito letradas podem conhecer o mundo inteiro através
da leitura de centenas de trabalhos acadêmicos mas passariam vergonha se questionados
quanto aos fatos que ocorrem na esquina
mais próxima da sua própria casa. Na minha maneira de pensar, eu não tenho
necessidade de saber tudo o que ocorre do outro lado do continente mas tenho a
obrigação de conhecer tudo o que está acontecendo ao meu redor sob pena de me
tornar uma criatura alienada e inútil.
Acho que esses programas não se concentram apenas nas distantes manchetes do que está havendo em nosso país mas aproximam e aprofundam a realidade tortuosa que até pouco tempo desconhecíamos.
Num determinado momento, mudando de canal, encontrei um desses programas na Record onde o Marcelo Rezende era o apresentador. Fiquei assistindo atentamente até o final e, desde então, migrei da emissora que eu assistia anteriormente para essa nova que me cativou por sua simplicidade e objetividade. Tornei-me sua fã e nunca mais o perdi de vista. Não só para mim mas para todos os seus fãs, ele não era um apresentador distante e frio mas era como se fosse um vizinho querido que vinha nos visitar diariamente no mesmo horário e com a mesma simpatia e cordialidade de sempre para nos contar as novidades. Fazia graça na hora da brincadeira para nos descontrair e nos arrancar sorrisos. E sabia também falar sério nas horas mais difíceis e dramáticas do nosso cotidiano, acordando-nos para a vida real. Tratava a sua equipe jornalística como se fosse parte da sua família. E nos incluía nesse processo. E assim foram passando os anos. Eu e seus outros fãs acompanhávamos o seu trabalho e nos sentíamos íntimos. Eu tive a honra e a felicidade de chegar bem próximo dele quando do lançamento de sua obra “Corta para mim” numa das tantas capitais por onde ele passou. Pude observar seus poucos cabelos e bem branquinhos, sua alta estatura e seu corpo avantajado de terno apesar do calor. O seu avião havia se atrasado e muita gente o aguardava ansiosa por um autógrafo e uma foto. Muitos seguranças o protegeram da multidão que se empurrava para vê-lo. Senhoras bem idosas e crianças com necessidades especiais tiveram a preferência no atendimento. Todos queriam abraçá-lo. Todos queriam tocá-lo ou, pelo menos, chegar o mais perto possível. Pude ver o seu jeito simples de atender o seu público. Sempre com um sorriso nos lábios, um olhar puro e um abraço carinhoso. Parecia que conhecia todo mundo que lá estava. Gente de todas as idades. Sua gente. Amigos que ele fez através da tela da televisão. Fãs que o amavam e o respeitavam como o maior contador de histórias da vida real. Meu ídolo. Nosso ídolo.
Com imensa tristeza, há uns três meses e meio recebemos a
triste notícia de sua enfermidade. E uma doença avassaladora. Incurável. Pegou
a todos desprevenidos. Foi um grande choque. Mas Deus é sábio e deu ao seu
público a oportunidade de se preparar para o que viria a seguir. Ele não esmoreceu. Mesmo sofrendo dores e
desconfortos, seguiu firme em seu propósito de vencer essa doença com sua
imensa fé, apesar de ter dito que não tinha medo da morte e iria enfrentá-la
com coragem caso a sua hora chegasse. Ele também teve tempo de se preparar com
orações, leituras da Bíblia e tratamento de saúde. Largou a quimioterapia num
determinado dia e foi muito criticado por isso. Mas só quem passa por uma
doença dessas é que pode avaliar a sua atitude. No fundo, ele sabia que não
sobreviveria. Sabia que seu tempo nesse mundo estava acabando e quis chegar na
reta final lúcido e fazendo tudo o que queria. E sua alma iluminada se elevou.
Partiu e nos deixou a todos órfãos. Mas deixou uma sementinha dentro do coração
de cada um dos seus fãs e familiares, amigos e colegas para que não o
esqueçamos. Nosso amor e respeito por ele é maior que tudo. Seguiremos a nossa
jornada por aqui, lembrando-nos sempre da sua simplicidade e bondade para com
todos, de todas as suas qualidades que o tornaram o maior e mais querido jornalista
de todos os tempos.
Vá em paz, amigo querido! Leva o amor de todos os brasileiros
em teu coração. O Brasil não vai te esquecer. Esta é a nossa promessa.
Elisabeth Souza Ferreira
MUDANÇA DE PLANOS
Quem se preparou para a chegada do novo ano com mil sonhos na cabeça, projetos e contas devidamente estudadas e colocadas na ponta do lápis, sequer imaginava que este seria um ano atípico, fora dos tradicionais padrões de todo e qualquer planejamento individual ou familiar. Ouviu-se as primeiras notícias a respeito de um vírus que estava matando algumas pessoas na China mas não parecia algo tão relevante assim a ponto de causar maiores preocupações ao resto do mundo, uma vez que volta e meia aparecem doenças aqui e acolá facilmente contornadas com o uso de medicamentos específicos para cada caso. O que não se esperava é que o contágio fosse tão rápido de pessoa para pessoa e que o número de mortos triplicasse em tão pouco tempo, ganhando terreno em outros países como a Coréia e o Irã. E, de repente, se estendesse à Itália de maneira absurda, quase impossível de controlar. E, assim foi se disseminando pelos continentes atingindo países como a Espanha, a França, a Alemanha, os Estados Unidos, Brasil, Moçambique e por aí afora... Generalizou-se de tal modo e rapidamente que a ficha parece ter caído para a maioria das pessoas nos últimos dias e para os mais atentos, nas últimas semanas, causando pânico e correria desenfreada aos supermercados e farmácias para se abastecerem de mantimentos não perecíveis, sob o temor de que o pior aconteça. E, de fato, já está acontecendo... Em torno de 12 mil seres humanos já pereceram, em questão de dois ou três meses desse mal que se alastra vertiginosamente sobre a Terra. A China, ao que tudo indica, parece já ter começado a apresentar um certo tipo de controle sobre o vírus, tomando medidas drásticas que estão sendo copiadas pelas outras nações. O covid-19 está sendo analisado às pressas pelos profissionais da saúde em busca da cura ou, de pelo menos uma vacina para proteger as pessoas mais idosas e debilitadas que fazem parte do grande grupo de risco. Até agora, os mais atingidos apresentavam, além da idade avançada, problemas relacionados a diabetes, pressão alta e doenças coronarianas. Os sintomas são de gripe com febre, coriza e dificuldade respiratória. Muito fácil de se confundir com um resfriado comum no início mas, quando feito o diagnóstico correto, os pulmões já podem estar em estado lastimável para tratamento. Esses quadros mais graves são levados imediatamente para hospitais onde são entubados, a fim de tentar reverter a situação por demais desesperadora.
sábado, 30 de janeiro de 2021
O LADO OCULTO
Não há quem já não
tenha se deparado alguma vez na vida com alguém que, à primeira vista, passe
uma imagem que muito se aproxima da perfeição, sempre pronto não só para ouvir
como para ajudar a carregar a cruz de cada um que o procura, mas que, no
decorrer do tempo de convivência, começa a apresentar sinais de uma
personalidade confusa e perturbadora. Essas mudanças no início são quase
imperceptíveis mas que vão se acentuando gradativamente à medida em que a
intimidade aumenta, derrubando as máscaras e revelando a verdadeira natureza de
quem está tentando se esconder. Não é por maldade que a pessoa age dessa forma.
Mas é por causa de uma profunda insegurança que a domina de não ser aceita e
compreendida no meio em que vive, sentindo-se impotente por não ter a
capacidade de segurar bem firme as rédeas da própria vida.
É uma pessoa que
não sabe quando o mal-estar baterá novamente a sua porta. Por enquanto, está
bem mas de uma hora para a outra, tudo poderá mudar. Ela nunca imagina se
acordará feliz ou azeda e quanto tempo assim permanecerá. E isso não depende de
ter sonhos lindos ou pesadelos aterrorizantes. Simplesmente acontece. Mudanças
terríveis de humor sem nenhuma explicação. Viver em altos e baixos sem nenhum
motivo aparente. Marca um encontro e desmarca no dia seguinte. Matricula-se num
curso e em menos de um mês, cancela as aulas. Tem vontade de fazer tudo numa
tarde e acaba não fazendo nada. Fica numa indecisão tremenda para decidir entre
a ambrosia e o arroz doce. Faz a vendedora colocar todas as roupas no balcão,
experimenta uma por uma mas parece que nenhuma se ajeita em seu corpo.
Entusiasma-se para ir ao cinema mas cai no sono durante o filme. Sai de casa
para visitar uma amiga mas desiste no meio do caminho. Passa uma semana inteira
com ódio de todo mundo e vontade de quebrar tudo. Na semana seguinte, fica
emotivo e vira uma manteiga derretida. Às vezes, tem choro convulsivo. Às
vezes, ataque de riso. Sem mais nem menos. Isso se chama bipolaridade.
É uma pessoa que,
talvez, não tenha sido sempre assim mas que a partir de um grande trauma
sofrido tenha desencadeado um mecanismo de defesa que a impede de manter o
mesmo comportamento peculiar de sempre. Sente-se insegura com um acentuado
complexo de inferioridade e faz o possível e o impossível para impressionar os
outros. Pelo menos, num primeiro momento. Depois, lentamente, quem está ao seu
redor vai percebendo que aquela primeira impressão era só verniz e o que há por
baixo não é tão atraente assim. Mais escuta do que fala; seus pensamentos pulam
de um extremo ao outro e logo o sorriso lindo é substituído por uma carranca
assustadora. Ele nem percebe a mudança em seu semblante mas é bastante visível
para os seus colegas ou familiares. Sua paciência fica por um fio e a menor
contrariedade, explode como uma bomba atômica, apavorando todo mundo. O que diz
no segundo da raiva logo é esquecido ou nem tem noção das palavras que coloca
para fora. No dia seguinte, não sabe o porquê das pessoas se afastarem do seu
convívio, inventando desculpas para não o acompanharem num almoço ou lanche da
tarde. De repente, parece que tudo está desmoronando. A solidão o abraça forte
e o leva a se enfiar dentro de casa sem vontade de falar com ninguém. O
telefone toca e ele ignora a chamada. Recebe mensagens mas nem tem curiosidade
de ver de quem se trata. Fecha-se em seu mundo particular achando que tudo
deveria acabar; que a humanidade não tem jeito; que nada adianta se alimentar
para viver mais alguns anos ou cuidar da saúde e perder a vida num acidente
estúpido de trânsito. Que o amor não vale a pena pois não é correspondido e a
traição o ronda diariamente como uma mosca perdida. Ataca a geladeira de
madrugada e se enche de cerveja, sorvete ou sobremesa. Afinal, por que não
faria isso? Pensa no final do mundo, na morte que é certa e da qual ninguém
escapa. Perde o interesse até mesmo pelo sexo. Transar para quê? Para ter um
prazer momentâneo? Não vale a pena. Nada mais vale a pena no seu universo
íntimo. Sente-se como uma terra devastada após um furacão, sem perspectiva de
melhorar e voltar a viver novamente. Ou come demais ou não come nada. Tem
temporadas de um total desprezo por si mesmo e se esquece de tomar banho ou
vestir uma roupa decente. Ele vive à parte dessa sociedade que o abandona e o
julga por ser esquisito e mal-humorado. Passa semanas sem falar com ninguém.
Não gosta de encarar quem quer que seja. Trabalha sem vontade. O cansaço é uma
constante em sua vida. Quando consegue se encostar numa cama ou sofá, dorme
para valer. Dorme tanto que acorda com dor de cabeça e com vontade de voltar a
dormir. Às vezes tem pensamento de acabar com tudo e deixar todo mundo na
merda. Não se importa com a família porque acha que a família também não se
importa com ele. Dinheiro nunca é suficiente. Gasta tudo o que ganha até a
última moeda. Economizar para quê? No mês seguinte, recebe o seu salário de
novo e nada muda. Seu dia é sempre sombrio, descolorido, velho e desbotado. Por
mais que haja um sol brilhando lá fora. Ele não vê a beleza, somente a
escuridão do que não faz sentido existir. Isso se chama depressão.
Às vezes,
convivemos com gente problemática e em vão buscamos respostas para o
comportamento estranho que demonstram ao se relacionarem conosco. Chegamos a
pensar que somos culpados, intransigentes por causa dessas pessoas tão queridas
e ao mesmo tempo, tão confusas. Mil coisas passam por nossas cabeças. Mas o
problema está bem próximo, bem na ponta do nosso nariz. E dificilmente
percebemos do que se trata. São pessoas amadas que precisam de ajuda. Elas
gritam em silêncio pela nossa atenção, pelo nosso socorro. Ninguém age dessa
forma pelo belo prazer de agir. Estão deprimidas e não conseguem sair do fundo
do poço. Se tivermos a sensibilidade de perceber que esse mal está instalado no
coração de alguém que nos é caro, vamos procurar por ela para que não se sinta
sozinha; vamos dar vazão aos elogios ao invés de fazer críticas; vamos ouvir o
que tem a dizer no lugar de dar-lhe as costas; vamos amenizar-lhe a dor e não
magoá-la cada vez mais; vamos encaminhá-la para uma ajuda profissional e não
abandoná-la a própria sorte. É possível tirar o deprimido da própria depressão
se o ajudarmos dessa maneira, fazendo a nossa parte, dando o primeiro empurrão
nesse sentido, colocando-o de pé para que um especialista termine o serviço de
recuperá-lo para a vida.
A depressão é o
mal do século. Se não for tratada pode levar ao suicídio, ao uso das drogas, às
más companhias, aos crimes e à violência. É um mal que se propaga
sorrateiramente devastando os lares, destruindo os laços familiares, gerando
desconfianças e mal-entendidos. Portanto, estejamos atentos ao lado oculto que
todos temos para que os desajustes da sociedade moderna não nos transformem em
pessoas doentes que agem por impulso e que encobrem a nossa verdadeira natureza
que é boa e que merece ser explorada e cuidada para que tenhamos uma vida plena
de felicidade e paz.
Elisabeth
Souza Ferreira
SENTINDO-SE DIFERENTE
Não é fácil
sentir atração, amor, paixão ou sabe-se lá o que mais por uma pessoa do mesmo
sexo. No início é quase impossível
declarar abertamente o sentimento que vem surgindo, crescendo e brilhando à
medida em que o ser que ama se encontra com o ser amado sem antes conhecer bem
o terreno em que está pisando, sob pena de passar por ridículo, alvo de chacota
pública, agressões, ódio ou compaixão por parte de terceiros que não entendem a
complexidade das relações humanas. As pessoas de fora ainda encaram os
relacionamentos que fogem aos padrões convencionais como uma doença ou opção.
Pensam que as pessoas que agem dessa forma estão simplesmente forçando a
natureza para serem o que não são. O que não é verdade. As pessoas são como são
e não do jeito que os outros gostariam que elas fossem. Sendo assim, nada poderá ser feito para mudar
tal situação. Não existe religião, medicamento, tratamento de choque,
internação, diálogo ou o diabo a quatro que possa reverter essa condição.
Existem muitos pretensos seres que prometem milagres nessas circunstâncias mas
essa possibilidade está descartada. A única coisa que pode fazer com que um homossexual deixe de sofrer é a
própria aceitação como tal. A pessoa
humana precisa se conhecer – o auto-conhecimento é o primeiro passo. A
aceitação é o segundo. E o terceiro é se amar a si mesmo.
O medo e a
confusão de sentimentos são normais. São obstáculos que estão a frente de todos
os que se sentem diferentes. São pedras que precisam ser removidas. A
insegurança causada pelos transtornos mentais (sou, não sou) é uma verdadeira
guerra interior que todos têm que travar consigo mesmos. Pouco a pouco, ela
poderá ser substituída por uma segurança inabalável, pela paz e tranquilidade
de quem ascendeu ao pico mais alto da compreensão íntima depois de vencer a dor
inerente a todos que ainda não se descobriram. Pode levar muito tempo para a
pessoa se conscientizar da sua orientação sexual. É preciso silenciar e ouvir o
que o seu coração tem a dizer – por quem ele bate mais forte – para que lado se
sente mais inclinado – o que mais gosta de fazer. As respostas para todos os
questionamentos íntimos estão a sua frente, saltando aos seus olhos. Só não
verá se não quiser. Demore o tempo que tiver que demorar, todo homossexual sabe
desde a mais tenra infância que é diferente dos modelos que lhe são
apresentados pelo mundo no dia-a-dia. A solução para esse problema está
guardada nas dobrinhas da sua consciência. Portanto, já que essa não é uma
tarefa fácil, deixar cair a ficha e se assumir para si mesmo é o primeiro
passo. Não há necessidade de sair gritando às ruas para todos ouvirem. É
importante que cada um se preserve , se resguarde. Não é preciso fazer de cara
com que os outros saibam da sua vida particular que é tão sagrada quanto a de
qualquer outro indivíduo. É bom ir com calma, procurando se conhecer cada vez
mais. Assumir em público a sua homossexualidade é a última etapa. Deixe para
fazer isso quando estiver seguro e feliz, amando e sendo amado. De preferência, una-se a alguém que seja
igual a você. Deve ter muita cautela porque há muitos heterossexuais que se aproximam dos homossexuais para matar
a curiosidade, para ter novas sensações na vida, como uma fonte diferente de
prazer.
É raro ver
alguém que ama de verdade, que se entrega com paixão, que está presente na sua
totalidade, que tem sentimentos verdadeiros e não sabe fingir num
relacionamento. E é quando brota o amor que essa natureza mais nobre e evoluída
explode e se revela na forma de um
grande talento. O homossexual possui uma alma cheia de arte. Dizem que não tem
nada a ver mas, o segredo do sucesso está na sensibilidade fora do comum. Essa
sensibilidade já nasce com ele e o orienta a calar, a esconder, a cobrir e
proteger a sua inclinação desde pequenino.
E é um longo
caminho – há muito sofrimento antes de encontrar a paz tão desejada. O
principal é aprender a ser você mesmo. Aceite-se!
Elisabeth Souza Ferreira