quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021
domingo, 31 de janeiro de 2021
AVERSÃO E AMIZADE
A pessoa que mais nos irrita é a que mais se nos assemelha, porque funciona como um espelho. Reflete tudo o que somos e o que, inconscientemente, queremos eliminar da nossa vida. Mas, o objeto da nossa aversão nunca nos é colocado, por acaso, a nossa frente.
Quando gostamos de alguém, sentimos que a outra
pessoa nos completa - que tem tudo de bom para nos oferecer - encaixamo-nos
perfeitamente a ela como se fôssemos peças de um mesmo quebra-cabeça. E, é aí
que nos enganamos, achando que somos iguais. Mas, na verdade, somos bem
diferentes, porque o que falta lá, excede aqui e o que excede nela, falta em
nós. Por isso, temos a satisfação de ficarmos juntos. Estas pessoas nos fazem
bem. Massegeiam o nosso ego o tempo todo, porém não nos tornam melhores do que
somos. No entanto, as pessoas que detestamos, pelo fato de terem muitos
aspectos da personalidade semelhantes aos nossos, parecem nos fazer mal,
causando-nos desconforto - até o simples olhar delas nos incomoda; a presença
delas é um estorvo - parecem não ter nada para nos acrescentar à vida e não têm
nada mesmo além do que já temos. Elas apenas refletem o que somos - são elas
que se parecem conosco - o que tem do outro lado também tem aqui deste lado. E
isso nos irrita. É o mesmo que nos observar no espelho pela manhã: os cabelos
despenteados, os olhos inchados - isso nos incomoda. Contudo, é assim que
somos. Os nossos "inimigos" nos fazem ver como realmente somos
e não como gostaríamos de ser. Passamos a odiá-los, entretanto, estamos
sentindo repulsa pelos aspectos negativos que temos. Quando damos as costas
para essas pessoas, estamos perdendo uma valiosa oportunidade de crescimento.
Se os encontros são esporádicos é o mesmo que observarmos a nossa imagem
refletida nas vitrines por onde passamos, muitas vezes sem prestarmos a devida
atenção. Estamos apenas dando uma olhadela no que não gostamos. O que
temos em nosso coração nos está sendo mostrado como um trailer de filme.
Se tivermos que conviver com alguém de quem não
gostamos, não só precisaremos saber o que precisa ser corrigido em nós mas
também deveremos aprender a nos corrigir. Somente essa pessoa poderá nos
ensinar - ela nos mostrará como realmente somos. Não aprenderemos a lição se
nos afastarmos dela. Não será com agressões que a eliminaremos da nossa
mente. Ela até poderá ir embora para muito longe, deixando assim de cumprir o
seu papel de nos ensinar a aprender conosco. Porque essa lição é mútua.
Não somos apenas nós que devemos aprender, mas ela também, porque nós temos
algo para ensinar-lhe. Quando temos conexões cármicas, o carma só se elimina
ficando junto. Quanto maior for a antipatia, mais coisas temos a aprender com
quem antipatizamos.
Poderemos ter a certeza de que estamos aprendendo a
nos corrigir, quando começamos a ver que o outro não é tão ruim quanto os
nossos sentidos nos faziam perceber anteriormente, quando perdermos a vontade
de falar mal dele, quando não desejamos mais vê-lo pelas costas. O importante é
ver que esse alguém que detestamos é igual a nós, por mais que não
identifiquemos de imediato as semelhanças e que, como nós, também tem direito
de seguir em frente, aprendendo sempre mais com os prazeres e os dissabores que
cada nova existência tem para nos apresentar.
Elisabeth Souza Ferreira
ORAÇÃO DO GAITEIRO
Patrão do Céu, abençoa este
gaiteiro que Te chama
Através do dedilhar desta velha
gaita que geme e suspira
Inspirado no minuano que sopra
com a força de quem mais ama
Transformando em prece a melodia
doce que cria.
Patrão do Céu, abençoa este
gaiteiro jovem que se esforça para aprender
No balanço agitado que insinua um
falso conhecer
Das notas benditas que toca com a
emoção que faz bater o pé
De um lado para o outro, se
entesa e se inclina
Enquanto que a todos, aos poucos,
encanta e fascina!
Patrão do Céu, abençoa este velho
gaiteiro que já cansado pelas lides campeiras
Mal consegue segurar o próprio
acordeão.
Com os dedos calejados e as
costas curvadas para a frente
Nas tuas mãos entrega, com a
consciência tranquila,
Embrulhado num fino lenço,
O próprio coração!
Patrão do Céu, abençoa toda a
nossa gente, a nossa querência amada
Estes peões e prendas espalhados
por esta terra abençoada
Para que a tradição gaúcha nunca
deixe de existir, nem agora nem num distante porvir
E que a gaita seja sempre a nossa
oração
O canto de louvor a Ti, Patrão do Céu,
Nosso modelo eterno de paz e
gratidão!
ELISABETH SOUZA FERREIRA
SIMPLESMENTE MARCELO
Sempre gostei de programas policiais que retratam a realidade
dos fatos no nosso país, mostrando o que acontece nos bastidores das grandes e
pequenas cidades e que nem sempre a
gente fica sabendo por falta de acesso a esse tipo de informação. Muita gente
julga que isso não passa de um sensacionalismo barato que visa por meios
estratégicos fazer o papel de maus formadores de opinião. Por diversas vezes
ouvi comentários negativos a minha postura não só por me revelar uma
telespectadora assídua bem como uma grande defensora de tais programas. Certas
pessoas que se consideram muito letradas podem conhecer o mundo inteiro através
da leitura de centenas de trabalhos acadêmicos mas passariam vergonha se questionados
quanto aos fatos que ocorrem na esquina
mais próxima da sua própria casa. Na minha maneira de pensar, eu não tenho
necessidade de saber tudo o que ocorre do outro lado do continente mas tenho a
obrigação de conhecer tudo o que está acontecendo ao meu redor sob pena de me
tornar uma criatura alienada e inútil.
Acho que esses programas não se concentram apenas nas distantes manchetes do que está havendo em nosso país mas aproximam e aprofundam a realidade tortuosa que até pouco tempo desconhecíamos.
Num determinado momento, mudando de canal, encontrei um desses programas na Record onde o Marcelo Rezende era o apresentador. Fiquei assistindo atentamente até o final e, desde então, migrei da emissora que eu assistia anteriormente para essa nova que me cativou por sua simplicidade e objetividade. Tornei-me sua fã e nunca mais o perdi de vista. Não só para mim mas para todos os seus fãs, ele não era um apresentador distante e frio mas era como se fosse um vizinho querido que vinha nos visitar diariamente no mesmo horário e com a mesma simpatia e cordialidade de sempre para nos contar as novidades. Fazia graça na hora da brincadeira para nos descontrair e nos arrancar sorrisos. E sabia também falar sério nas horas mais difíceis e dramáticas do nosso cotidiano, acordando-nos para a vida real. Tratava a sua equipe jornalística como se fosse parte da sua família. E nos incluía nesse processo. E assim foram passando os anos. Eu e seus outros fãs acompanhávamos o seu trabalho e nos sentíamos íntimos. Eu tive a honra e a felicidade de chegar bem próximo dele quando do lançamento de sua obra “Corta para mim” numa das tantas capitais por onde ele passou. Pude observar seus poucos cabelos e bem branquinhos, sua alta estatura e seu corpo avantajado de terno apesar do calor. O seu avião havia se atrasado e muita gente o aguardava ansiosa por um autógrafo e uma foto. Muitos seguranças o protegeram da multidão que se empurrava para vê-lo. Senhoras bem idosas e crianças com necessidades especiais tiveram a preferência no atendimento. Todos queriam abraçá-lo. Todos queriam tocá-lo ou, pelo menos, chegar o mais perto possível. Pude ver o seu jeito simples de atender o seu público. Sempre com um sorriso nos lábios, um olhar puro e um abraço carinhoso. Parecia que conhecia todo mundo que lá estava. Gente de todas as idades. Sua gente. Amigos que ele fez através da tela da televisão. Fãs que o amavam e o respeitavam como o maior contador de histórias da vida real. Meu ídolo. Nosso ídolo.
Com imensa tristeza, há uns três meses e meio recebemos a
triste notícia de sua enfermidade. E uma doença avassaladora. Incurável. Pegou
a todos desprevenidos. Foi um grande choque. Mas Deus é sábio e deu ao seu
público a oportunidade de se preparar para o que viria a seguir. Ele não esmoreceu. Mesmo sofrendo dores e
desconfortos, seguiu firme em seu propósito de vencer essa doença com sua
imensa fé, apesar de ter dito que não tinha medo da morte e iria enfrentá-la
com coragem caso a sua hora chegasse. Ele também teve tempo de se preparar com
orações, leituras da Bíblia e tratamento de saúde. Largou a quimioterapia num
determinado dia e foi muito criticado por isso. Mas só quem passa por uma
doença dessas é que pode avaliar a sua atitude. No fundo, ele sabia que não
sobreviveria. Sabia que seu tempo nesse mundo estava acabando e quis chegar na
reta final lúcido e fazendo tudo o que queria. E sua alma iluminada se elevou.
Partiu e nos deixou a todos órfãos. Mas deixou uma sementinha dentro do coração
de cada um dos seus fãs e familiares, amigos e colegas para que não o
esqueçamos. Nosso amor e respeito por ele é maior que tudo. Seguiremos a nossa
jornada por aqui, lembrando-nos sempre da sua simplicidade e bondade para com
todos, de todas as suas qualidades que o tornaram o maior e mais querido jornalista
de todos os tempos.
Vá em paz, amigo querido! Leva o amor de todos os brasileiros
em teu coração. O Brasil não vai te esquecer. Esta é a nossa promessa.
Elisabeth Souza Ferreira
MUDANÇA DE PLANOS
Quem se preparou para a chegada do novo ano com mil sonhos na cabeça, projetos e contas devidamente estudadas e colocadas na ponta do lápis, sequer imaginava que este seria um ano atípico, fora dos tradicionais padrões de todo e qualquer planejamento individual ou familiar. Ouviu-se as primeiras notícias a respeito de um vírus que estava matando algumas pessoas na China mas não parecia algo tão relevante assim a ponto de causar maiores preocupações ao resto do mundo, uma vez que volta e meia aparecem doenças aqui e acolá facilmente contornadas com o uso de medicamentos específicos para cada caso. O que não se esperava é que o contágio fosse tão rápido de pessoa para pessoa e que o número de mortos triplicasse em tão pouco tempo, ganhando terreno em outros países como a Coréia e o Irã. E, de repente, se estendesse à Itália de maneira absurda, quase impossível de controlar. E, assim foi se disseminando pelos continentes atingindo países como a Espanha, a França, a Alemanha, os Estados Unidos, Brasil, Moçambique e por aí afora... Generalizou-se de tal modo e rapidamente que a ficha parece ter caído para a maioria das pessoas nos últimos dias e para os mais atentos, nas últimas semanas, causando pânico e correria desenfreada aos supermercados e farmácias para se abastecerem de mantimentos não perecíveis, sob o temor de que o pior aconteça. E, de fato, já está acontecendo... Em torno de 12 mil seres humanos já pereceram, em questão de dois ou três meses desse mal que se alastra vertiginosamente sobre a Terra. A China, ao que tudo indica, parece já ter começado a apresentar um certo tipo de controle sobre o vírus, tomando medidas drásticas que estão sendo copiadas pelas outras nações. O covid-19 está sendo analisado às pressas pelos profissionais da saúde em busca da cura ou, de pelo menos uma vacina para proteger as pessoas mais idosas e debilitadas que fazem parte do grande grupo de risco. Até agora, os mais atingidos apresentavam, além da idade avançada, problemas relacionados a diabetes, pressão alta e doenças coronarianas. Os sintomas são de gripe com febre, coriza e dificuldade respiratória. Muito fácil de se confundir com um resfriado comum no início mas, quando feito o diagnóstico correto, os pulmões já podem estar em estado lastimável para tratamento. Esses quadros mais graves são levados imediatamente para hospitais onde são entubados, a fim de tentar reverter a situação por demais desesperadora.
sábado, 30 de janeiro de 2021
O LADO OCULTO
Não há quem já não
tenha se deparado alguma vez na vida com alguém que, à primeira vista, passe
uma imagem que muito se aproxima da perfeição, sempre pronto não só para ouvir
como para ajudar a carregar a cruz de cada um que o procura, mas que, no
decorrer do tempo de convivência, começa a apresentar sinais de uma
personalidade confusa e perturbadora. Essas mudanças no início são quase
imperceptíveis mas que vão se acentuando gradativamente à medida em que a
intimidade aumenta, derrubando as máscaras e revelando a verdadeira natureza de
quem está tentando se esconder. Não é por maldade que a pessoa age dessa forma.
Mas é por causa de uma profunda insegurança que a domina de não ser aceita e
compreendida no meio em que vive, sentindo-se impotente por não ter a
capacidade de segurar bem firme as rédeas da própria vida.
É uma pessoa que
não sabe quando o mal-estar baterá novamente a sua porta. Por enquanto, está
bem mas de uma hora para a outra, tudo poderá mudar. Ela nunca imagina se
acordará feliz ou azeda e quanto tempo assim permanecerá. E isso não depende de
ter sonhos lindos ou pesadelos aterrorizantes. Simplesmente acontece. Mudanças
terríveis de humor sem nenhuma explicação. Viver em altos e baixos sem nenhum
motivo aparente. Marca um encontro e desmarca no dia seguinte. Matricula-se num
curso e em menos de um mês, cancela as aulas. Tem vontade de fazer tudo numa
tarde e acaba não fazendo nada. Fica numa indecisão tremenda para decidir entre
a ambrosia e o arroz doce. Faz a vendedora colocar todas as roupas no balcão,
experimenta uma por uma mas parece que nenhuma se ajeita em seu corpo.
Entusiasma-se para ir ao cinema mas cai no sono durante o filme. Sai de casa
para visitar uma amiga mas desiste no meio do caminho. Passa uma semana inteira
com ódio de todo mundo e vontade de quebrar tudo. Na semana seguinte, fica
emotivo e vira uma manteiga derretida. Às vezes, tem choro convulsivo. Às
vezes, ataque de riso. Sem mais nem menos. Isso se chama bipolaridade.
É uma pessoa que,
talvez, não tenha sido sempre assim mas que a partir de um grande trauma
sofrido tenha desencadeado um mecanismo de defesa que a impede de manter o
mesmo comportamento peculiar de sempre. Sente-se insegura com um acentuado
complexo de inferioridade e faz o possível e o impossível para impressionar os
outros. Pelo menos, num primeiro momento. Depois, lentamente, quem está ao seu
redor vai percebendo que aquela primeira impressão era só verniz e o que há por
baixo não é tão atraente assim. Mais escuta do que fala; seus pensamentos pulam
de um extremo ao outro e logo o sorriso lindo é substituído por uma carranca
assustadora. Ele nem percebe a mudança em seu semblante mas é bastante visível
para os seus colegas ou familiares. Sua paciência fica por um fio e a menor
contrariedade, explode como uma bomba atômica, apavorando todo mundo. O que diz
no segundo da raiva logo é esquecido ou nem tem noção das palavras que coloca
para fora. No dia seguinte, não sabe o porquê das pessoas se afastarem do seu
convívio, inventando desculpas para não o acompanharem num almoço ou lanche da
tarde. De repente, parece que tudo está desmoronando. A solidão o abraça forte
e o leva a se enfiar dentro de casa sem vontade de falar com ninguém. O
telefone toca e ele ignora a chamada. Recebe mensagens mas nem tem curiosidade
de ver de quem se trata. Fecha-se em seu mundo particular achando que tudo
deveria acabar; que a humanidade não tem jeito; que nada adianta se alimentar
para viver mais alguns anos ou cuidar da saúde e perder a vida num acidente
estúpido de trânsito. Que o amor não vale a pena pois não é correspondido e a
traição o ronda diariamente como uma mosca perdida. Ataca a geladeira de
madrugada e se enche de cerveja, sorvete ou sobremesa. Afinal, por que não
faria isso? Pensa no final do mundo, na morte que é certa e da qual ninguém
escapa. Perde o interesse até mesmo pelo sexo. Transar para quê? Para ter um
prazer momentâneo? Não vale a pena. Nada mais vale a pena no seu universo
íntimo. Sente-se como uma terra devastada após um furacão, sem perspectiva de
melhorar e voltar a viver novamente. Ou come demais ou não come nada. Tem
temporadas de um total desprezo por si mesmo e se esquece de tomar banho ou
vestir uma roupa decente. Ele vive à parte dessa sociedade que o abandona e o
julga por ser esquisito e mal-humorado. Passa semanas sem falar com ninguém.
Não gosta de encarar quem quer que seja. Trabalha sem vontade. O cansaço é uma
constante em sua vida. Quando consegue se encostar numa cama ou sofá, dorme
para valer. Dorme tanto que acorda com dor de cabeça e com vontade de voltar a
dormir. Às vezes tem pensamento de acabar com tudo e deixar todo mundo na
merda. Não se importa com a família porque acha que a família também não se
importa com ele. Dinheiro nunca é suficiente. Gasta tudo o que ganha até a
última moeda. Economizar para quê? No mês seguinte, recebe o seu salário de
novo e nada muda. Seu dia é sempre sombrio, descolorido, velho e desbotado. Por
mais que haja um sol brilhando lá fora. Ele não vê a beleza, somente a
escuridão do que não faz sentido existir. Isso se chama depressão.
Às vezes,
convivemos com gente problemática e em vão buscamos respostas para o
comportamento estranho que demonstram ao se relacionarem conosco. Chegamos a
pensar que somos culpados, intransigentes por causa dessas pessoas tão queridas
e ao mesmo tempo, tão confusas. Mil coisas passam por nossas cabeças. Mas o
problema está bem próximo, bem na ponta do nosso nariz. E dificilmente
percebemos do que se trata. São pessoas amadas que precisam de ajuda. Elas
gritam em silêncio pela nossa atenção, pelo nosso socorro. Ninguém age dessa
forma pelo belo prazer de agir. Estão deprimidas e não conseguem sair do fundo
do poço. Se tivermos a sensibilidade de perceber que esse mal está instalado no
coração de alguém que nos é caro, vamos procurar por ela para que não se sinta
sozinha; vamos dar vazão aos elogios ao invés de fazer críticas; vamos ouvir o
que tem a dizer no lugar de dar-lhe as costas; vamos amenizar-lhe a dor e não
magoá-la cada vez mais; vamos encaminhá-la para uma ajuda profissional e não
abandoná-la a própria sorte. É possível tirar o deprimido da própria depressão
se o ajudarmos dessa maneira, fazendo a nossa parte, dando o primeiro empurrão
nesse sentido, colocando-o de pé para que um especialista termine o serviço de
recuperá-lo para a vida.
A depressão é o
mal do século. Se não for tratada pode levar ao suicídio, ao uso das drogas, às
más companhias, aos crimes e à violência. É um mal que se propaga
sorrateiramente devastando os lares, destruindo os laços familiares, gerando
desconfianças e mal-entendidos. Portanto, estejamos atentos ao lado oculto que
todos temos para que os desajustes da sociedade moderna não nos transformem em
pessoas doentes que agem por impulso e que encobrem a nossa verdadeira natureza
que é boa e que merece ser explorada e cuidada para que tenhamos uma vida plena
de felicidade e paz.
Elisabeth
Souza Ferreira
SENTINDO-SE DIFERENTE
Não é fácil
sentir atração, amor, paixão ou sabe-se lá o que mais por uma pessoa do mesmo
sexo. No início é quase impossível
declarar abertamente o sentimento que vem surgindo, crescendo e brilhando à
medida em que o ser que ama se encontra com o ser amado sem antes conhecer bem
o terreno em que está pisando, sob pena de passar por ridículo, alvo de chacota
pública, agressões, ódio ou compaixão por parte de terceiros que não entendem a
complexidade das relações humanas. As pessoas de fora ainda encaram os
relacionamentos que fogem aos padrões convencionais como uma doença ou opção.
Pensam que as pessoas que agem dessa forma estão simplesmente forçando a
natureza para serem o que não são. O que não é verdade. As pessoas são como são
e não do jeito que os outros gostariam que elas fossem. Sendo assim, nada poderá ser feito para mudar
tal situação. Não existe religião, medicamento, tratamento de choque,
internação, diálogo ou o diabo a quatro que possa reverter essa condição.
Existem muitos pretensos seres que prometem milagres nessas circunstâncias mas
essa possibilidade está descartada. A única coisa que pode fazer com que um homossexual deixe de sofrer é a
própria aceitação como tal. A pessoa
humana precisa se conhecer – o auto-conhecimento é o primeiro passo. A
aceitação é o segundo. E o terceiro é se amar a si mesmo.
O medo e a
confusão de sentimentos são normais. São obstáculos que estão a frente de todos
os que se sentem diferentes. São pedras que precisam ser removidas. A
insegurança causada pelos transtornos mentais (sou, não sou) é uma verdadeira
guerra interior que todos têm que travar consigo mesmos. Pouco a pouco, ela
poderá ser substituída por uma segurança inabalável, pela paz e tranquilidade
de quem ascendeu ao pico mais alto da compreensão íntima depois de vencer a dor
inerente a todos que ainda não se descobriram. Pode levar muito tempo para a
pessoa se conscientizar da sua orientação sexual. É preciso silenciar e ouvir o
que o seu coração tem a dizer – por quem ele bate mais forte – para que lado se
sente mais inclinado – o que mais gosta de fazer. As respostas para todos os
questionamentos íntimos estão a sua frente, saltando aos seus olhos. Só não
verá se não quiser. Demore o tempo que tiver que demorar, todo homossexual sabe
desde a mais tenra infância que é diferente dos modelos que lhe são
apresentados pelo mundo no dia-a-dia. A solução para esse problema está
guardada nas dobrinhas da sua consciência. Portanto, já que essa não é uma
tarefa fácil, deixar cair a ficha e se assumir para si mesmo é o primeiro
passo. Não há necessidade de sair gritando às ruas para todos ouvirem. É
importante que cada um se preserve , se resguarde. Não é preciso fazer de cara
com que os outros saibam da sua vida particular que é tão sagrada quanto a de
qualquer outro indivíduo. É bom ir com calma, procurando se conhecer cada vez
mais. Assumir em público a sua homossexualidade é a última etapa. Deixe para
fazer isso quando estiver seguro e feliz, amando e sendo amado. De preferência, una-se a alguém que seja
igual a você. Deve ter muita cautela porque há muitos heterossexuais que se aproximam dos homossexuais para matar
a curiosidade, para ter novas sensações na vida, como uma fonte diferente de
prazer.
É raro ver
alguém que ama de verdade, que se entrega com paixão, que está presente na sua
totalidade, que tem sentimentos verdadeiros e não sabe fingir num
relacionamento. E é quando brota o amor que essa natureza mais nobre e evoluída
explode e se revela na forma de um
grande talento. O homossexual possui uma alma cheia de arte. Dizem que não tem
nada a ver mas, o segredo do sucesso está na sensibilidade fora do comum. Essa
sensibilidade já nasce com ele e o orienta a calar, a esconder, a cobrir e
proteger a sua inclinação desde pequenino.
E é um longo
caminho – há muito sofrimento antes de encontrar a paz tão desejada. O
principal é aprender a ser você mesmo. Aceite-se!
Elisabeth Souza Ferreira
COMO ABRIR O ARMÁRIO
As mulheres de hoje não são tão diferentes das mulheres de
todas as épocas da humanidade, pois continuam ainda agora a sonhar com um
príncipe encantado que possa resgatá-las da solidão e do tédio para uma vida
plena de felicidade e amor. Desde meninas aprendem a imaginar um homem
perfeito, atraente, educado e sedutor capaz de protegê-las de todas as maldades
do mundo. Crescem pouco a pouco reparando nos vários modelos de relacionamentos
que a sociedade apresenta nos filmes, nas novelas e nos capítulos da vida real.
E quando se tornam adolescentes passam a sentir atração pelos rapazes mais
bonitos, pelos colegas que tiram as melhores notas, pelos vizinhos mais ricos e
perfumados, pelos caras que têm o sorriso mais lindo, os olhos mais penetrantes
e os beijos mais deliciosos que qualquer outro possa oferecer. E assim embarcam
em namoros sérios desde muito cedo sem ter noção de tudo o que possam vir a
encontrar ao longo dessa caminhada a dois.
Muitas se casam ou simplesmente vão morar junto com seus
amados a fim de ter uma família e sair da dependência dos pais. O tempo vai
passando e logo chegam os filhos para unir ainda mais o casal, estreitando os
laços familiares e servindo de exemplo para amigos e conhecidos.
No entanto, com o decorrer dos anos, muitas coisas vão
mudando. É muito mais comum do que se pensa o homem passar a relaxar com os
deveres matrimoniais, evitando uma aproximação maior da sua companheira que o
busca em vão. Esse é um dos sinais de que as coisas não vão bem e a tendência é
piorar ainda mais. Se ela tiver uma auto-estima baixa, começará a se olhar no
espelho para ver se encontra aonde está o seu defeito e aonde foi que errou ,
podendo até entrar em uma profunda crise depressiva. Se ela for mais confiante
e segura de si, pensará em três possibilidades: Uma traição, uma doença que ele
não quer revelar ou algum problema de natureza psicológica.
Quando o relacionamento chega nesse ponto, é necessário que
ela passe a observá-lo melhor para entender o cálculo dessa matemática
sentimental e localizar a solução correta para esse problema em questão.
Existem várias fórmulas para se analisar essa situação. Se
paralelamente a diminuição da libido, o cara passa a ficar mais tempo na frente
do espelho experimentando roupas ou em cima da balança conferindo se o peso foi
alterado nas últimas semanas; se reclama muito que a casa está suja e a comida
não presta; se anda muito estourado, com o pavio curto e cheio de melindres; se
não tem conseguido dormir; se está com compulsão para comer e comprar tudo o
que vê pela frente; se não está se sentindo bem mas não faz nada para melhorar
o ânimo; se evita o diálogo e está sempre driblando a companheira na cama, nem
sempre é indício de que ele possa ter algum envolvimento extra-conjugal. É
preciso que a mulher tenha a coragem suficiente para abrir o armário e, sem
ideias pré-concebidas, ver o que realmente tem em casa. Não é através dos
gestos ou da voz que se identifica o problema. O maior sinal está nas atitudes.
Há muitos homens que se sentem deslocados em vários setores
da vida mas fazem todo o possível para não deixar transparecer esse mal-estar
com medo da reprovação alheia. Às vezes, eles não têm mesmo noção nenhuma do
que está acontecendo e somente os outros percebem ou desconfiam que algo não
está bem. Mas, na grande maioria, eles sabem muito bem o que é mas jamais
admitirão isso em público. Cabe a companheira, nessas circunstâncias, buscá-lo
para uma conversa franca e oferecer ajuda. Não é de críticas que ele precisa.
Ele espera compreensão, apesar de não pedir nada nesse sentido. E ela merece
uma explicação plausível para, pelo menos, não ficar frustrada diante de tantas
rejeições por parte do mesmo. Nesses relacionamentos, o sentimento prevalece
mas não é compatível com a verdadeira natureza do homem. Por isso, ele se sente
dividido entre a sua família e o que realmente ele é e deseja. Por um lado, não
quer perder o que construiu mas, por outro, não consegue ser feliz nem ter paz
dessa maneira.
A mulher passa a perceber que o universo masculino é muito
mais amplo do que se imagina e que o homem perfeito não existe. O que ela quer
e precisa não é o tipo mais lindo e charmoso que possa existir; não é o que
abre a porta para ela passar; não é o que se oferece para carregar as suas
compras; não é o que se lembra de ligar para saber como ela está; não é o que
manda flores e se recorda das datas mais especiais; não é o que sussurra
poesias ao seu ouvido; não é o que abre mão do jogo na TV ou a rodada de
cerveja com os amigos para ficar com ela no aconchego do lar; não é o que fala
com doçura nem o que a olha com ternura. Esse tipo é o que mais provavelmente
poderá vir a causar grandes decepções. Nem sempre o homem perfeito
aparentemente será capaz de proporcionar à mulher uma vida cheia de amor e
plena de tranquilidade.
Elisabeth Souza Ferreira
QUANDO O ASSUNTO É TRAIÇÃO
Quem já não
encontrou um fio de cabelo longo e claro na jaqueta ou camiseta do maridão? E
ficou se perguntando de quem seria aquela melena diferente da sua.. Pois é, isso
acontece com muito mais frequência do que se imagina. E, quando acha uma marca
de batom ou mancha de base difícil de ser removida da roupa dele? E aquele
perfume mais adocicado do que o seu? De onde teria saído? Se confrontado,
certamente ele dirá que deve ter sido de uma cliente ou colega de trabalho ou
até mesmo de uma amiga de infância que abraçou na rua sem maldade nenhuma. Até
aí, a casa balança mas não chega a cair.
Um dia depois do outro e a gente logo esquece, não é mesmo? Para que
começar uma discussão se a vida já anda tão complicada? O tempo vai passando e
outras coisas vão acontecendo. O telefone que toca e ninguém fala nada do outro
lado da linha; o inacessível celular que ele coloca debaixo do travesseiro
quando dorme e carrega no bolso até quando vai usar o banheiro; os atrasos cada
vez mais frequentes para chegar em casa e as crescentes queixas de cansaço para
maiores intimidades... Vamos fazendo vistas grossas, relevando ao máximo para
não dar um estouro. Mas, de repente, a desconfiança pode aumentar quando ele
aparece com a cueca virada do avesso e suja. E, como se não bastasse isso,
outro longo fio de cabelo enroladinho dentro de uma de suas meias que parece
ter sido colocado de propósito por alguém para você achar. Daí ficamos com a
pulga atrás da orelha sem saber o que pensar porque esses são os sinais mais
comuns de que há algo muito errado acontecendo no nosso relacionamento.
O tempo que
ficamos com alguém nunca é suficiente o bastante para que a conheçamos
profundamente bem. Há pessoas que escondem outra identidade por baixo daquela
imagem que elas apresentam a sociedade. Sabem mentir de uma forma tão elegante
e convincente que acabam acreditando na própria mentira e pousando de vítimas
como se nós estivéssemos sendo paranoicas por questionarmos o seu
comportamento.
Quem mente
rouba a boa fé das outras pessoas. E não acredita que a mentira tenha pernas
curtas e que logo ela poderá cair por terra, deixando-o sem crédito perante
todos. Por isso, ele investe cada vez mais na enganação, achando que vai
conseguir justificar uma mentira com outras mentiras ainda mais relevantes. E
segue em frente com sua lábia sedutora até que um dia a sua máscara caia no
chão e revele o verdadeiro lobo que se escondia por baixo de sua pele de cordeiro.
Nunca devemos
confiar cegamente numa pessoa, por mais que ela nos pareça ser quase perfeita
porque pessoas perfeitas não existem. O que nos cega com relação aos seus
defeitos é o amor que sentimos por ela. E quando existe muito amor envolvido é
difícil enxergar a pessoa amada como realmente ela é. Por isso, quando os
outros tentam nos abrir os olhos, alertando-nos que estamos diante de um
demônio de duas caras, insistimos em continuar seguindo em frente com ele nem
que seja rumo ao inferno. Quando se está apaixonado é quase impossível se
render às evidências. E quanto mais confiarmos em alguém, maior será a nossa
decepção caso ela venha a acontecer. Seja por motivo de traição ou violência
doméstica. E a dor da decepção amorosa é quase insustentável porque fere os
brios da alma que nenhum remédio de farmácia tem eficácia para combater.
Com a
facilidade dos relacionamentos modernos, é muito comum os homens serem
polígamos e conciliarem dois ou mais relacionamentos afetivos no mesmo período
de tempo. Há os que se atrapalham trocando os nomes e os endereços das pessoas
envolvidas ou cometendo outros tipos de gafes e acabam sendo descobertos com a
boca na butija. E há os raríssimos que conseguem fazer a felicidade feminina,
apesar da grande demanda porque as mulheres costumam ser exigentes e não deixam
barato uma traição. Elas também traem quando percebem que estão sendo traídas a
fim de se vingar ou por necessidade mesmo quando o cara com quem estão não está
conseguindo mais dar conta do recado. De uma forma ou de outra, traição não é a
melhor saída para a crise num relacionamento. Quando as coisas não vão bem, a
solução é sentar e conversar, um olhando para o outro e que a verdade sempre
prevaleça. Uma traição poderá ser perdoada mas uma mentira jamais será
esquecida.
Procure ser
sincera em todas as ocasiões. E se estiver desconfiada de que está sendo traída,
pense muito antes de optar por uma separação. Não vá sair correndo para
entregar de bandeja a pessoa que você ama para quem ela está apenas tendo um
caso passageiro. Pode ser apenas uma febre momentânea. Mas, dependendo muito da
sua atitude, o que é apenas uma brincadeira pode virar algo muito mais sério.
Se você
perguntar para a maioria dos homens divorciados quem pediu a separação, verá
que a maioria dos pedidos partiu das esposas e não deles. Os homens fazem
coisas absurdas mas acabam voltando para casa arrependidos. Mentem, prometem
castelos e voltam a fazer besteiras e se arrepender. Mas, a maioria volta. Eles
são inseguros e por mais velhos que estejam, às vezes agem como moleques para
se autoafirmar. Quase nunca admitem ser abandonados. Não toleram um pedido de
divórcio. A maioria dos crimes passionais ocorre por não aceitarem o fim do
relacionamento. Lembro-me de um caso que fiquei sabendo onde o marido trocou a
esposa e o lar com os filhos adolescentes por uma jovem bem mais jovem do que
ele. Passou um determinado período, ele sofreu um derrame em plena via pública
e foi conduzido imediatamente ao hospital. Diante das sequelas que ficaram do
derrame, a jovem não quis mais ficar com ele, abandonando-o a própria sorte. A esposa
que havia sido traída, então, o levou de volta para casa e passou a cuidá-lo.
Não sei se o casal ainda está junto atualmente mas o tal homem recebeu uma grande
lição. Não se troca uma pessoa que nos ama de verdade por alguém que nos vê
apenas como um passatempo. Evite os riscos de perder um amor verdadeiro pelo
prazer momentâneo de uma aventura. Valorize quem ama você.
As pessoas
não são perfeitas. Não busque a perfeição porque não irá encontrá-la. Cuide do
ser amado. É alguém que pode cuidar de você, fazer companhia, arrancar sorrisos
e lágrimas. E fazer você se sentir viva. Pense muito antes de se separar se for
por um motivo fútil ou até mesmo uma traição. Os homens não têm prazo de
validade. Charles Chaplin engravidou uma mulher quando estava com 80 anos. Sua
filha, Geraldine Chaplin também se tornou atriz. Os homens podem estar carecas
e pançudos, pobres e doentes mas sempre haverá uma mulher disposta a
resgatá-los. Já as mulheres depois de um certo tempo, dependendo de como
estiverem fisicamente, fica bem mais difícil. Pense nisso. Não que uma mulher
precise de um homem para ser feliz. Mas a solidão não faz bem para ninguém. Se
você teve a sorte de encontrar alguém para amar, não jogue essa oportunidade no
lixo. Cuide do seu jardim para que seja sempre florido. Os homens são como as
borboletas que voam. Eles estarão sempre por perto. E sempre voltarão...
Elisabeth Souza Ferreira
ÀS ESCURAS
Às vezes, a gente pensa que sabe tudo em
matéria de relacionamentos. Um pouco de experiência e pronto. Parece que somos
"experts". Nos sentimos inatingíveis pelo que vemos acontecer com
outras pessoas ingênuas e despreparadas. Achamos que jamais vamos entrar numa
furada porque enquanto as outras estão
indo, nós já fomos e voltamos inúmeras vezes. Temos uma inteligência acima da
média. Bom, isso é o que imaginamos. Mas, nem sempre é o que acontece.
Todo relacionamento deve ser às claras.
Nada justifica namoro às escondidas.
Se aceitamos um envolvimento sentimental
com outra pessoa sem que as demais saibam, estamos involuntariamente dando
margem para que a mesma se sinta no direito de cantar qualquer outra que
encontre pelo caminho, da mesma forma que também estamos permitindo que ela
seja cantada por tantas quantas não souberem o que está rolando nos bastidores
do grande palco da vida.
O mundo está cheio de homens casados que
escondem a aliança, só para você pensar que eles são livres. Evitam sair em
público e não gostam de tirar "selfies". Preferem frequentar a sua
casa mas não querem que você conheça o lugar aonde moram. E assim o tempo vai
passando até você ser completamente fisgada pelas gentilezas e aparente caráter
impoluto. Daí será tarde. Quando você descobrir pela boca dos outros, estará
tão envolvida e ficará muito mais difícil o rompimento. Portanto, cuidado. Você já parou para pensar que ele até pode
não ser casado no papel mas ter uma união estável com outra mulher? Você acredita
que ele não gosta mesmo de crianças e possivelmente até tenha filhos por aí?
Não aceite nada no escuro porque se você aceitar, poderá vir a ter grandes
surpresas no futuro. Se aceitar, estará permitindo que ele tenha muitos outros
casos paralelos ao mesmo tempo. Estará consentindo ser usada pelo período que
ele quiser e não tenha responsabilidade alguma na hora em que resolver partir.
Estará dando a ele o direito de lhe enganar do mesmo jeito que engana as
outras, amigas suas ou não.
Se você está passando ou já passou por
uma situação desse tipo, saiba que você não é completamente uma vítima das
circunstâncias. Você permitiu.
Se você divide o mesmo teto com um cara
que não lhe assume, depois não reclame. Aprenda a se impor desde o início. Se
ele não lhe assumir agora, não lhe assumirá depois. Por que permitir que ele
viva com você e continue se intitulando solteiro nas redes sociais? Por que ele
não leva você junto nas festas da firma onde trabalha? Por que deixar que ele
faça as compras sozinho como se não tivesse ninguém para acompanhá-lo?
Os homens quando querem alguma coisa com
uma mulher, pintam verdadeiros castelos. Mesmo que lhe peçam para manter tudo
em segredo, abra a boca. Escancare o rolo. Mesmo que ninguém tenha nada a ver
com a sua vida, conte para a sua melhor amiga. Conte para a sua família. Não
entre no jogo dele. Valorize-se. Nem todos são sem-vergonhas mas, fique
atenta. Se alguém souber alguma coisa
sobre ele, poderá comentar com você e lhe abrir os olhos para que não caia no
abismo. Se ninguém souber, ninguém poderá vir em sua defesa. Se você ceder ao jogo da sedução e manter
tudo em sigilo, não será totalmente uma vítima. Terá a sua parcela de culpa por
ter concordado com um namoro às escuras.
Exija tudo às claras. É a melhor maneira
de preservar a sua dignidade e ficar protegida contra os relacionamentos
plurais que tanto empobrecem os valores humanos.
Elisabeth Souza Ferreira
LIVROS OCULTOS
Lembro-me de uma ocasião em
que veio a Passo Fundo um notável orador para dar palestra na Catedral e eu,
acompanhada dos meus pais, não conseguimos entrar porque estava lotada de
pessoas sedentas para ouvi-lo. Ficamos na porta mesmo, junto com tantos outros
curiosos que se empurravam em busca de uma brecha para poder escutá-lo melhor.
Não consegui ver o jeito do homem que falava mas a sua voz era perfeitamente
audível graças ao microfone e às caixas de som. Ele contava sobre ter sido ateu
durante grande parte da sua vida até o momento em que se converteu à Religião
Católica. Chamava-se Neimar de Barros e era autor de vários livros de cunho
religioso que fizeram muito sucesso por uma década. Dentre estes, "Deus Negro"
era o principal e que fui obrigada a ler no Colégio valendo nota para Religião.
Na época, ele era muito requisitado para discursar de ponta a ponta do Brasil,
tendo ficado tão conhecido quanto o Paulo Coelho dos nossos dias. Viajava
sempre a serviço da Igreja e se hospedava na residência dos padres e bispos, de
onde pôde ver de perto e analisar o comportamento dos religiosos com os quais
passou a conviver. E dessa convivência por longos anos, passou a colecionar
decepções pois os "superiores" costumam dizer uma coisa e praticar
outra bem diferente. Começou, então, a questionar a atitude de algumas pessoas
daquele meio até que se tornou indesejável por se recusar a guardar certos
segredos. Percebendo a realidade do problema, resolveu se afastar, dando uma
entrevista à Revista Veja em 1986, que escandalizou a sociedade que o
idolatrava como um dos escritores mais
renomados. Em consequência disso, a Igreja ou outra entidade qualquer que
estava por trás dessa máquina, mandou recolher das Livrarias todos os seus
livros e dentro de pouco tempo, já não se ouvia mais falar em Neimar de Barros
como antes. Por causa desse episódio ocorrido durante a minha infância, a sua
obra praticamente desapareceu das prateleiras e ele deixou de existir como um
dos mais fortes formadores de opinião para a juventude cristã daquela época.
Desde, então, falar em Neimar de Barros se tornou um grande tabu. É
interessante como o mundo reage negativamente, às vezes, diante de um simples
comentário ou atitude por parte de um indivíduo que, como qualquer outro, tem o
direito de mudar de pensamento e de direção. E os seus livros? Os seus livros
foram julgados e condenados à inexistência, banidos do comércio simplesmente
porque o autor já não era mais conveniente no meio em que atuava. Cito esse
exemplo porque isso ocorre com muito mais frequência do que se imagina. Muitos
escritores passam por isso.
Meus dois primeiros livros
foram psicografados dentro de um Centro Espírita e enquanto lá permaneci fui
muito requisitada por pessoas que chegavam desesperadas em busca de resposta
para suas dúvidas e apoio para os seus mais diversos problemas. Elas saíam
aliviadas e eu, carregada de energias negativas. Foram anos difíceis para mim.
A psicografia não pode nem deve ser cronometrada no relógio pois nunca sabemos
quanto tempo uma entidade vai levar para transcrever ao papel a sua mensagem.
Há algumas que escrevem muito rápido. Outras demoram muito. E não podemos
atropelá-las pois o maior prejudicado é o médium. Aconteceu várias vezes
comigo. Eu estar psicografando e, de repente, tocarem a sineta para avisar que
o tempo havia acabado. E logo dariam início aos trabalhos de passes. Eu
entendia perfeitamente essa regra mas os espíritos nem sempre aceitavam ter que
se afastar sem ao menos colocar um ponto final no seu texto. E a parte que eles
mais gostavam eram as despedidas. Resultado: Eles davam um jeito de me achar em
casa para terminar o que haviam começado no Centro Espírita. E não me deixavam
em paz enquanto eu não me dispunha a colocar papel sobre a mesa e concluir a
mensagem. Tenho vários dons mediúnicos além da psicografia. E, na minha
opinião, o pior deles é o da incorporação. Eu levava uma semana para voltar ao
normal após cada incorporação. Os que escrevem geralmente estão em condições de
escrever. Mas, os que incorporam quase sempre são sofredores e o que eles mais
fazem é chorar. Cada incorporação desse tipo causa um tremendo esgotamento
físico e mental no médium. Eu vivia com os olhos inchados e o semblante
abatido. Meus pais sofriam junto comigo. Passaram, então, a tomar providências
para me libertar desse pesadelo em que eu vivia. Eu já não estava mais
suportando viver daquela forma. Comecei a ler outras obras e a frequentar
outras religiões. Fui me fortalecendo aos poucos e resolvi me afastar do Centro
Espírita. As incorporações cessaram e eu continuei a psicografar somente em
casa sem nenhum stress. Recebi inúmeras mensagens ao longo dos anos que se
sucederam e pude ajudar muitas pessoas. Acredito ter feito a minha parte.
Abandonei o Centro mas o meu dom não me abandonou. Descobri que tinha segurança
mediúnica para trabalhar sozinha sem a necessidade de estar cercada de pessoas
que não sabiam me dar o suporte de que precisava. Os meus livros? Eu tinha
aonde vendê-los. Não me preocupava com isso. Por mais de dez anos, tive uma
Livraria mística bem no centro da cidade. O que eu não sabia era que, pelo fato
de ter me afastado do Centro Espírita, os meus livros deixaram de ser
relevantes para a Doutrina Espírita. Sempre que eu tentava colocá-los à venda
em outras livrarias, logo vinha a observação sobre o meu afastamento da
Doutrina. Isso parecia ter mais importância do que o conteúdo dos livros
psicografados na época em que eu frequentava o Centro. Era como se eles
tivessem se tornado proibidos para a leitura.
Cada pessoa tem os seus
motivos para permanecer ou para se afastar desta ou daquela religião. Eu tive
os meus. E paguei um preço alto demais por dar um basta a tudo aquilo que me
fazia sofrer pois assim como os livros do Neimar de Barros, os meus também se
tornaram ocultos por força de uma mudança justa de direção.
Elisabeth Souza Ferreira