sábado, 30 de janeiro de 2021

O LADO OCULTO

 

                                         


     Não há quem já não tenha se deparado alguma vez na vida com alguém que, à primeira vista, passe uma imagem que muito se aproxima da perfeição, sempre pronto não só para ouvir como para ajudar a carregar a cruz de cada um que o procura, mas que, no decorrer do tempo de convivência, começa a apresentar sinais de uma personalidade confusa e perturbadora. Essas mudanças no início são quase imperceptíveis mas que vão se acentuando gradativamente à medida em que a intimidade aumenta, derrubando as máscaras e revelando a verdadeira natureza de quem está tentando se esconder. Não é por maldade que a pessoa age dessa forma. Mas é por causa de uma profunda insegurança que a domina de não ser aceita e compreendida no meio em que vive, sentindo-se impotente por não ter a capacidade de segurar bem firme as rédeas da própria vida.

     É uma pessoa que não sabe quando o mal-estar baterá novamente a sua porta. Por enquanto, está bem mas de uma hora para a outra, tudo poderá mudar. Ela nunca imagina se acordará feliz ou azeda e quanto tempo assim permanecerá. E isso não depende de ter sonhos lindos ou pesadelos aterrorizantes. Simplesmente acontece. Mudanças terríveis de humor sem nenhuma explicação. Viver em altos e baixos sem nenhum motivo aparente. Marca um encontro e desmarca no dia seguinte. Matricula-se num curso e em menos de um mês, cancela as aulas. Tem vontade de fazer tudo numa tarde e acaba não fazendo nada. Fica numa indecisão tremenda para decidir entre a ambrosia e o arroz doce. Faz a vendedora colocar todas as roupas no balcão, experimenta uma por uma mas parece que nenhuma se ajeita em seu corpo. Entusiasma-se para ir ao cinema mas cai no sono durante o filme. Sai de casa para visitar uma amiga mas desiste no meio do caminho. Passa uma semana inteira com ódio de todo mundo e vontade de quebrar tudo. Na semana seguinte, fica emotivo e vira uma manteiga derretida. Às vezes, tem choro convulsivo. Às vezes, ataque de riso. Sem mais nem menos. Isso se chama bipolaridade.

     É uma pessoa que, talvez, não tenha sido sempre assim mas que a partir de um grande trauma sofrido tenha desencadeado um mecanismo de defesa que a impede de manter o mesmo comportamento peculiar de sempre. Sente-se insegura com um acentuado complexo de inferioridade e faz o possível e o impossível para impressionar os outros. Pelo menos, num primeiro momento. Depois, lentamente, quem está ao seu redor vai percebendo que aquela primeira impressão era só verniz e o que há por baixo não é tão atraente assim. Mais escuta do que fala; seus pensamentos pulam de um extremo ao outro e logo o sorriso lindo é substituído por uma carranca assustadora. Ele nem percebe a mudança em seu semblante mas é bastante visível para os seus colegas ou familiares. Sua paciência fica por um fio e a menor contrariedade, explode como uma bomba atômica, apavorando todo mundo. O que diz no segundo da raiva logo é esquecido ou nem tem noção das palavras que coloca para fora. No dia seguinte, não sabe o porquê das pessoas se afastarem do seu convívio, inventando desculpas para não o acompanharem num almoço ou lanche da tarde. De repente, parece que tudo está desmoronando. A solidão o abraça forte e o leva a se enfiar dentro de casa sem vontade de falar com ninguém. O telefone toca e ele ignora a chamada. Recebe mensagens mas nem tem curiosidade de ver de quem se trata. Fecha-se em seu mundo particular achando que tudo deveria acabar; que a humanidade não tem jeito; que nada adianta se alimentar para viver mais alguns anos ou cuidar da saúde e perder a vida num acidente estúpido de trânsito. Que o amor não vale a pena pois não é correspondido e a traição o ronda diariamente como uma mosca perdida. Ataca a geladeira de madrugada e se enche de cerveja, sorvete ou sobremesa. Afinal, por que não faria isso? Pensa no final do mundo, na morte que é certa e da qual ninguém escapa. Perde o interesse até mesmo pelo sexo. Transar para quê? Para ter um prazer momentâneo? Não vale a pena. Nada mais vale a pena no seu universo íntimo. Sente-se como uma terra devastada após um furacão, sem perspectiva de melhorar e voltar a viver novamente. Ou come demais ou não come nada. Tem temporadas de um total desprezo por si mesmo e se esquece de tomar banho ou vestir uma roupa decente. Ele vive à parte dessa sociedade que o abandona e o julga por ser esquisito e mal-humorado. Passa semanas sem falar com ninguém. Não gosta de encarar quem quer que seja. Trabalha sem vontade. O cansaço é uma constante em sua vida. Quando consegue se encostar numa cama ou sofá, dorme para valer. Dorme tanto que acorda com dor de cabeça e com vontade de voltar a dormir. Às vezes tem pensamento de acabar com tudo e deixar todo mundo na merda. Não se importa com a família porque acha que a família também não se importa com ele. Dinheiro nunca é suficiente. Gasta tudo o que ganha até a última moeda. Economizar para quê? No mês seguinte, recebe o seu salário de novo e nada muda. Seu dia é sempre sombrio, descolorido, velho e desbotado. Por mais que haja um sol brilhando lá fora. Ele não vê a beleza, somente a escuridão do que não faz sentido existir. Isso se chama depressão.

     Às vezes, convivemos com gente problemática e em vão buscamos respostas para o comportamento estranho que demonstram ao se relacionarem conosco. Chegamos a pensar que somos culpados, intransigentes por causa dessas pessoas tão queridas e ao mesmo tempo, tão confusas. Mil coisas passam por nossas cabeças. Mas o problema está bem próximo, bem na ponta do nosso nariz. E dificilmente percebemos do que se trata. São pessoas amadas que precisam de ajuda. Elas gritam em silêncio pela nossa atenção, pelo nosso socorro. Ninguém age dessa forma pelo belo prazer de agir. Estão deprimidas e não conseguem sair do fundo do poço. Se tivermos a sensibilidade de perceber que esse mal está instalado no coração de alguém que nos é caro, vamos procurar por ela para que não se sinta sozinha; vamos dar vazão aos elogios ao invés de fazer críticas; vamos ouvir o que tem a dizer no lugar de dar-lhe as costas; vamos amenizar-lhe a dor e não magoá-la cada vez mais; vamos encaminhá-la para uma ajuda profissional e não abandoná-la a própria sorte. É possível tirar o deprimido da própria depressão se o ajudarmos dessa maneira, fazendo a nossa parte, dando o primeiro empurrão nesse sentido, colocando-o de pé para que um especialista termine o serviço de recuperá-lo para a vida.

     A depressão é o mal do século. Se não for tratada pode levar ao suicídio, ao uso das drogas, às más companhias, aos crimes e à violência. É um mal que se propaga sorrateiramente devastando os lares, destruindo os laços familiares, gerando desconfianças e mal-entendidos. Portanto, estejamos atentos ao lado oculto que todos temos para que os desajustes da sociedade moderna não nos transformem em pessoas doentes que agem por impulso e que encobrem a nossa verdadeira natureza que é boa e que merece ser explorada e cuidada para que tenhamos uma vida plena de felicidade e paz.

                                   Elisabeth Souza Ferreira

 

SENTINDO-SE DIFERENTE

 

                                    


          Não é fácil sentir atração, amor, paixão ou sabe-se lá o que mais por uma pessoa do mesmo sexo.  No início é quase impossível declarar abertamente o sentimento que vem surgindo, crescendo e brilhando à medida em que o ser que ama se encontra com o ser amado sem antes conhecer bem o terreno em que está pisando, sob pena de passar por ridículo, alvo de chacota pública, agressões, ódio ou compaixão por parte de terceiros que não entendem a complexidade das relações humanas. As pessoas de fora ainda encaram os relacionamentos que fogem aos padrões convencionais como uma doença ou opção. Pensam que as pessoas que agem dessa forma estão simplesmente forçando a natureza para serem o que não são. O que não é verdade. As pessoas são como são e não do jeito que os outros gostariam que elas fossem.  Sendo assim, nada poderá ser feito para mudar tal situação. Não existe religião, medicamento, tratamento de choque, internação, diálogo ou o diabo a quatro que possa reverter essa condição. Existem muitos pretensos seres que prometem milagres nessas circunstâncias mas essa possibilidade está descartada. A única coisa que pode fazer  com que um homossexual deixe de sofrer é a própria aceitação como tal.  A pessoa humana precisa se conhecer – o auto-conhecimento é o primeiro passo. A aceitação é o segundo. E o terceiro é se amar a si mesmo.

          O medo e a confusão de sentimentos são normais. São obstáculos que estão a frente de todos os que se sentem diferentes. São pedras que precisam ser removidas. A insegurança causada pelos transtornos mentais (sou, não sou) é uma verdadeira guerra interior que todos têm que travar consigo mesmos. Pouco a pouco, ela poderá ser substituída por uma segurança inabalável, pela paz e tranquilidade de quem ascendeu ao pico mais alto da compreensão íntima depois de vencer a dor inerente a todos que ainda não se descobriram. Pode levar muito tempo para a pessoa se conscientizar da sua orientação sexual. É preciso silenciar e ouvir o que o seu coração tem a dizer – por quem ele bate mais forte – para que lado se sente mais inclinado – o que mais gosta de fazer. As respostas para todos os questionamentos íntimos estão a sua frente, saltando aos seus olhos. Só não verá se não quiser. Demore o tempo que tiver que demorar, todo homossexual sabe desde a mais tenra infância que é diferente dos modelos que lhe são apresentados pelo mundo no dia-a-dia. A solução para esse problema está guardada nas dobrinhas da sua consciência. Portanto, já que essa não é uma tarefa fácil, deixar cair a ficha e se assumir para si mesmo é o primeiro passo. Não há necessidade de sair gritando às ruas para todos ouvirem. É importante que cada um se preserve , se resguarde. Não é preciso fazer de cara com que os outros saibam da sua vida particular que é tão sagrada quanto a de qualquer outro indivíduo. É bom ir com calma, procurando se conhecer cada vez mais. Assumir em público a sua homossexualidade é a última etapa. Deixe para fazer isso quando estiver seguro e feliz, amando e sendo amado.  De preferência, una-se a alguém que seja igual a você. Deve ter muita cautela porque há muitos heterossexuais  que se aproximam dos homossexuais para matar a curiosidade, para ter novas sensações na vida, como uma fonte diferente de prazer.

          É raro ver alguém que ama de verdade, que se entrega com paixão, que está presente na sua totalidade, que tem sentimentos verdadeiros e não sabe fingir num relacionamento. E é quando brota o amor que essa natureza mais nobre e evoluída explode e se revela na  forma de um grande talento. O homossexual possui uma alma cheia de arte. Dizem que não tem nada a ver mas, o segredo do sucesso está na sensibilidade fora do comum. Essa sensibilidade já nasce com ele e o orienta a calar, a esconder, a cobrir e proteger a sua inclinação desde pequenino.

          E é um longo caminho – há muito sofrimento antes de encontrar a paz tão desejada. O principal é aprender a ser você mesmo. Aceite-se!

                                     Elisabeth Souza Ferreira

COMO ABRIR O ARMÁRIO

 

                                         


      As mulheres de hoje não são tão diferentes das mulheres de todas as épocas da humanidade, pois continuam ainda agora a sonhar com um príncipe encantado que possa resgatá-las da solidão e do tédio para uma vida plena de felicidade e amor. Desde meninas aprendem a imaginar um homem perfeito, atraente, educado e sedutor capaz de protegê-las de todas as maldades do mundo. Crescem pouco a pouco reparando nos vários modelos de relacionamentos que a sociedade apresenta nos filmes, nas novelas e nos capítulos da vida real. E quando se tornam adolescentes passam a sentir atração pelos rapazes mais bonitos, pelos colegas que tiram as melhores notas, pelos vizinhos mais ricos e perfumados, pelos caras que têm o sorriso mais lindo, os olhos mais penetrantes e os beijos mais deliciosos que qualquer outro possa oferecer. E assim embarcam em namoros sérios desde muito cedo sem ter noção de tudo o que possam vir a encontrar ao longo dessa caminhada a dois.

       Muitas se casam ou simplesmente vão morar junto com seus amados a fim de ter uma família e sair da dependência dos pais. O tempo vai passando e logo chegam os filhos para unir ainda mais o casal, estreitando os laços familiares e servindo de exemplo para amigos e conhecidos.

      No entanto, com o decorrer dos anos, muitas coisas vão mudando. É muito mais comum do que se pensa o homem passar a relaxar com os deveres matrimoniais, evitando uma aproximação maior da sua companheira que o busca em vão. Esse é um dos sinais de que as coisas não vão bem e a tendência é piorar ainda mais. Se ela tiver uma auto-estima baixa, começará a se olhar no espelho para ver se encontra aonde está o seu defeito e aonde foi que errou , podendo até entrar em uma profunda crise depressiva. Se ela for mais confiante e segura de si, pensará em três possibilidades: Uma traição, uma doença que ele não quer revelar ou algum problema de natureza psicológica.

     Quando o relacionamento chega nesse ponto, é necessário que ela passe a observá-lo melhor para entender o cálculo dessa matemática sentimental e localizar a solução correta para esse problema em questão.

  Existem várias fórmulas para se analisar essa situação. Se paralelamente a diminuição da libido, o cara passa a ficar mais tempo na frente do espelho experimentando roupas ou em cima da balança conferindo se o peso foi alterado nas últimas semanas; se reclama muito que a casa está suja e a comida não presta; se anda muito estourado, com o pavio curto e cheio de melindres; se não tem conseguido dormir; se está com compulsão para comer e comprar tudo o que vê pela frente; se não está se sentindo bem mas não faz nada para melhorar o ânimo; se evita o diálogo e está sempre driblando a companheira na cama, nem sempre é indício de que ele possa ter algum envolvimento extra-conjugal. É preciso que a mulher tenha a coragem suficiente para abrir o armário e, sem ideias pré-concebidas, ver o que realmente tem em casa. Não é através dos gestos ou da voz que se identifica o problema. O maior sinal está nas atitudes.

    Há muitos homens que se sentem deslocados em vários setores da vida mas fazem todo o possível para não deixar transparecer esse mal-estar com medo da reprovação alheia. Às vezes, eles não têm mesmo noção nenhuma do que está acontecendo e somente os outros percebem ou desconfiam que algo não está bem. Mas, na grande maioria, eles sabem muito bem o que é mas jamais admitirão isso em público. Cabe a companheira, nessas circunstâncias, buscá-lo para uma conversa franca e oferecer ajuda. Não é de críticas que ele precisa. Ele espera compreensão, apesar de não pedir nada nesse sentido. E ela merece uma explicação plausível para, pelo menos, não ficar frustrada diante de tantas rejeições por parte do mesmo. Nesses relacionamentos, o sentimento prevalece mas não é compatível com a verdadeira natureza do homem. Por isso, ele se sente dividido entre a sua família e o que realmente ele é e deseja. Por um lado, não quer perder o que construiu mas, por outro, não consegue ser feliz nem ter paz dessa maneira.

    A mulher passa a perceber que o universo masculino é muito mais amplo do que se imagina e que o homem perfeito não existe. O que ela quer e precisa não é o tipo mais lindo e charmoso que possa existir; não é o que abre a porta para ela passar; não é o que se oferece para carregar as suas compras; não é o que se lembra de ligar para saber como ela está; não é o que manda flores e se recorda das datas mais especiais; não é o que sussurra poesias ao seu ouvido; não é o que abre mão do jogo na TV ou a rodada de cerveja com os amigos para ficar com ela no aconchego do lar; não é o que fala com doçura nem o que a olha com ternura. Esse tipo é o que mais provavelmente poderá vir a causar grandes decepções. Nem sempre o homem perfeito aparentemente será capaz de proporcionar à mulher uma vida cheia de amor e plena de tranquilidade.

                                       Elisabeth Souza Ferreira

 

 

QUANDO O ASSUNTO É TRAIÇÃO

 

     




 

          Quem já não encontrou um fio de cabelo longo e claro na jaqueta ou camiseta do maridão? E ficou se perguntando de quem seria aquela melena diferente da sua.. Pois é, isso acontece com muito mais frequência do que se imagina. E, quando acha uma marca de batom ou mancha de base difícil de ser removida da roupa dele? E aquele perfume mais adocicado do que o seu? De onde teria saído? Se confrontado, certamente ele dirá que deve ter sido de uma cliente ou colega de trabalho ou até mesmo de uma amiga de infância que abraçou na rua sem maldade nenhuma. Até aí, a casa balança mas não chega a cair.  Um dia depois do outro e a gente logo esquece, não é mesmo? Para que começar uma discussão se a vida já anda tão complicada? O tempo vai passando e outras coisas vão acontecendo. O telefone que toca e ninguém fala nada do outro lado da linha; o inacessível celular que ele coloca debaixo do travesseiro quando dorme e carrega no bolso até quando vai usar o banheiro; os atrasos cada vez mais frequentes para chegar em casa e as crescentes queixas de cansaço para maiores intimidades... Vamos fazendo vistas grossas, relevando ao máximo para não dar um estouro. Mas, de repente, a desconfiança pode aumentar quando ele aparece com a cueca virada do avesso e suja. E, como se não bastasse isso, outro longo fio de cabelo enroladinho dentro de uma de suas meias que parece ter sido colocado de propósito por alguém para você achar. Daí ficamos com a pulga atrás da orelha sem saber o que pensar porque esses são os sinais mais comuns de que há algo muito errado acontecendo no nosso relacionamento.

          O tempo que ficamos com alguém nunca é suficiente o bastante para que a conheçamos profundamente bem. Há pessoas que escondem outra identidade por baixo daquela imagem que elas apresentam a sociedade. Sabem mentir de uma forma tão elegante e convincente que acabam acreditando na própria mentira e pousando de vítimas como se nós estivéssemos sendo paranoicas por questionarmos o seu comportamento.

          Quem mente rouba a boa fé das outras pessoas. E não acredita que a mentira tenha pernas curtas e que logo ela poderá cair por terra, deixando-o sem crédito perante todos. Por isso, ele investe cada vez mais na enganação, achando que vai conseguir justificar uma mentira com outras mentiras ainda mais relevantes. E segue em frente com sua lábia sedutora até que um dia a sua máscara caia no chão e revele o verdadeiro lobo que se escondia por baixo de sua pele de cordeiro.  

          Nunca devemos confiar cegamente numa pessoa, por mais que ela nos pareça ser quase perfeita porque pessoas perfeitas não existem. O que nos cega com relação aos seus defeitos é o amor que sentimos por ela. E quando existe muito amor envolvido é difícil enxergar a pessoa amada como realmente ela é. Por isso, quando os outros tentam nos abrir os olhos, alertando-nos que estamos diante de um demônio de duas caras, insistimos em continuar seguindo em frente com ele nem que seja rumo ao inferno. Quando se está apaixonado é quase impossível se render às evidências. E quanto mais confiarmos em alguém, maior será a nossa decepção caso ela venha a acontecer. Seja por motivo de traição ou violência doméstica. E a dor da decepção amorosa é quase insustentável porque fere os brios da alma que nenhum remédio de farmácia tem eficácia para combater.

          Com a facilidade dos relacionamentos modernos, é muito comum os homens serem polígamos e conciliarem dois ou mais relacionamentos afetivos no mesmo período de tempo. Há os que se atrapalham trocando os nomes e os endereços das pessoas envolvidas ou cometendo outros tipos de gafes e acabam sendo descobertos com a boca na butija. E há os raríssimos que conseguem fazer a felicidade feminina, apesar da grande demanda porque as mulheres costumam ser exigentes e não deixam barato uma traição. Elas também traem quando percebem que estão sendo traídas a fim de se vingar ou por necessidade mesmo quando o cara com quem estão não está conseguindo mais dar conta do recado. De uma forma ou de outra, traição não é a melhor saída para a crise num relacionamento. Quando as coisas não vão bem, a solução é sentar e conversar, um olhando para o outro e que a verdade sempre prevaleça. Uma traição poderá ser perdoada mas uma mentira jamais será esquecida.

          Procure ser sincera em todas as ocasiões. E se estiver desconfiada de que está sendo traída, pense muito antes de optar por uma separação. Não vá sair correndo para entregar de bandeja a pessoa que você ama para quem ela está apenas tendo um caso passageiro. Pode ser apenas uma febre momentânea. Mas, dependendo muito da sua atitude, o que é apenas uma brincadeira pode virar algo muito mais sério.

          Se você perguntar para a maioria dos homens divorciados quem pediu a separação, verá que a maioria dos pedidos partiu das esposas e não deles. Os homens fazem coisas absurdas mas acabam voltando para casa arrependidos. Mentem, prometem castelos e voltam a fazer besteiras e se arrepender. Mas, a maioria volta. Eles são inseguros e por mais velhos que estejam, às vezes agem como moleques para se autoafirmar. Quase nunca admitem ser abandonados. Não toleram um pedido de divórcio. A maioria dos crimes passionais ocorre por não aceitarem o fim do relacionamento. Lembro-me de um caso que fiquei sabendo onde o marido trocou a esposa e o lar com os filhos adolescentes por uma jovem bem mais jovem do que ele. Passou um determinado período, ele sofreu um derrame em plena via pública e foi conduzido imediatamente ao hospital. Diante das sequelas que ficaram do derrame, a jovem não quis mais ficar com ele, abandonando-o a própria sorte. A esposa que havia sido traída, então, o levou de volta para casa e passou a cuidá-lo. Não sei se o casal ainda está junto atualmente mas o tal homem recebeu uma grande lição. Não se troca uma pessoa que nos ama de verdade por alguém que nos vê apenas como um passatempo. Evite os riscos de perder um amor verdadeiro pelo prazer momentâneo de uma aventura. Valorize quem ama você.

          As pessoas não são perfeitas. Não busque a perfeição porque não irá encontrá-la. Cuide do ser amado. É alguém que pode cuidar de você, fazer companhia, arrancar sorrisos e lágrimas. E fazer você se sentir viva. Pense muito antes de se separar se for por um motivo fútil ou até mesmo uma traição. Os homens não têm prazo de validade. Charles Chaplin engravidou uma mulher quando estava com 80 anos. Sua filha, Geraldine Chaplin também se tornou atriz. Os homens podem estar carecas e pançudos, pobres e doentes mas sempre haverá uma mulher disposta a resgatá-los. Já as mulheres depois de um certo tempo, dependendo de como estiverem fisicamente, fica bem mais difícil. Pense nisso. Não que uma mulher precise de um homem para ser feliz. Mas a solidão não faz bem para ninguém. Se você teve a sorte de encontrar alguém para amar, não jogue essa oportunidade no lixo. Cuide do seu jardim para que seja sempre florido. Os homens são como as borboletas que voam. Eles estarão sempre por perto. E sempre voltarão...

                                        Elisabeth Souza Ferreira

ÀS ESCURAS

 

                                   


      Às vezes, a gente pensa que sabe tudo em matéria de relacionamentos. Um pouco de experiência e pronto. Parece que somos "experts". Nos sentimos inatingíveis pelo que vemos acontecer com outras pessoas ingênuas e despreparadas. Achamos que jamais vamos entrar numa furada porque enquanto as outras  estão indo, nós já fomos e voltamos inúmeras vezes. Temos uma inteligência acima da média. Bom, isso é o que imaginamos. Mas, nem sempre é o que acontece.

      Todo relacionamento deve ser às claras. Nada justifica namoro às escondidas.

      Se aceitamos um envolvimento sentimental com outra pessoa sem que as demais saibam, estamos involuntariamente dando margem para que a mesma se sinta no direito de cantar qualquer outra que encontre pelo caminho, da mesma forma que também estamos permitindo que ela seja cantada por tantas quantas não souberem o que está rolando nos bastidores do grande palco da vida.

      O mundo está cheio de homens casados que escondem a aliança, só para você pensar que eles são livres. Evitam sair em público e não gostam de tirar "selfies". Preferem frequentar a sua casa mas não querem que você conheça o lugar aonde moram. E assim o tempo vai passando até você ser completamente fisgada pelas gentilezas e aparente caráter impoluto. Daí será tarde. Quando você descobrir pela boca dos outros, estará tão envolvida e ficará muito mais difícil o rompimento. Portanto, cuidado.  Você já parou para pensar que ele até pode não ser casado no papel mas ter uma união estável com outra mulher? Você acredita que ele não gosta mesmo de crianças e possivelmente até tenha filhos por aí? Não aceite nada no escuro porque se você aceitar, poderá vir a ter grandes surpresas no futuro. Se aceitar, estará permitindo que ele tenha muitos outros casos paralelos ao mesmo tempo. Estará consentindo ser usada pelo período que ele quiser e não tenha responsabilidade alguma na hora em que resolver partir. Estará dando a ele o direito de lhe enganar do mesmo jeito que engana as outras, amigas suas ou não.

      Se você está passando ou já passou por uma situação desse tipo, saiba que você não é completamente uma vítima das circunstâncias. Você permitiu.

      Se você divide o mesmo teto com um cara que não lhe assume, depois não reclame. Aprenda a se impor desde o início. Se ele não lhe assumir agora, não lhe assumirá depois. Por que permitir que ele viva com você e continue se intitulando solteiro nas redes sociais? Por que ele não leva você junto nas festas da firma onde trabalha? Por que deixar que ele faça as compras sozinho como se não tivesse ninguém para acompanhá-lo?

      Os homens quando querem alguma coisa com uma mulher, pintam verdadeiros castelos. Mesmo que lhe peçam para manter tudo em segredo, abra a boca. Escancare o rolo. Mesmo que ninguém tenha nada a ver com a sua vida, conte para a sua melhor amiga. Conte para a sua família. Não entre no jogo dele. Valorize-se. Nem todos são sem-vergonhas mas, fique atenta.  Se alguém souber alguma coisa sobre ele, poderá comentar com você e lhe abrir os olhos para que não caia no abismo. Se ninguém souber, ninguém poderá vir em sua defesa.  Se você ceder ao jogo da sedução e manter tudo em sigilo, não será totalmente uma vítima. Terá a sua parcela de culpa por ter concordado com um namoro às escuras.

      Exija tudo às claras. É a melhor maneira de preservar a sua dignidade e ficar protegida contra os relacionamentos plurais que tanto empobrecem os valores humanos.

                                     Elisabeth Souza Ferreira

LIVROS OCULTOS

 

             



     Lembro-me de uma ocasião em que veio a Passo Fundo um notável orador para dar palestra na Catedral e eu, acompanhada dos meus pais, não conseguimos entrar porque estava lotada de pessoas sedentas para ouvi-lo. Ficamos na porta mesmo, junto com tantos outros curiosos que se empurravam em busca de uma brecha para poder escutá-lo melhor. Não consegui ver o jeito do homem que falava mas a sua voz era perfeitamente audível graças ao microfone e às caixas de som. Ele contava sobre ter sido ateu durante grande parte da sua vida até o momento em que se converteu à Religião Católica. Chamava-se Neimar de Barros e era autor de vários livros de cunho religioso que fizeram muito sucesso por uma década. Dentre estes, "Deus Negro" era o principal e que fui obrigada a ler no Colégio valendo nota para Religião. Na época, ele era muito requisitado para discursar de ponta a ponta do Brasil, tendo ficado tão conhecido quanto o Paulo Coelho dos nossos dias. Viajava sempre a serviço da Igreja e se hospedava na residência dos padres e bispos, de onde pôde ver de perto e analisar o comportamento dos religiosos com os quais passou a conviver. E dessa convivência por longos anos, passou a colecionar decepções pois os "superiores" costumam dizer uma coisa e praticar outra bem diferente. Começou, então, a questionar a atitude de algumas pessoas daquele meio até que se tornou indesejável por se recusar a guardar certos segredos. Percebendo a realidade do problema, resolveu se afastar, dando uma entrevista à Revista Veja em 1986, que escandalizou a sociedade que o idolatrava como um dos  escritores mais renomados. Em consequência disso, a Igreja ou outra entidade qualquer que estava por trás dessa máquina, mandou recolher das Livrarias todos os seus livros e dentro de pouco tempo, já não se ouvia mais falar em Neimar de Barros como antes. Por causa desse episódio ocorrido durante a minha infância, a sua obra praticamente desapareceu das prateleiras e ele deixou de existir como um dos mais fortes formadores de opinião para a juventude cristã daquela época. Desde, então, falar em Neimar de Barros se tornou um grande tabu. É interessante como o mundo reage negativamente, às vezes, diante de um simples comentário ou atitude por parte de um indivíduo que, como qualquer outro, tem o direito de mudar de pensamento e de direção. E os seus livros? Os seus livros foram julgados e condenados à inexistência, banidos do comércio simplesmente porque o autor já não era mais conveniente no meio em que atuava. Cito esse exemplo porque isso ocorre com muito mais frequência do que se imagina. Muitos escritores passam por isso.

     Meus dois primeiros livros foram psicografados dentro de um Centro Espírita e enquanto lá permaneci fui muito requisitada por pessoas que chegavam desesperadas em busca de resposta para suas dúvidas e apoio para os seus mais diversos problemas. Elas saíam aliviadas e eu, carregada de energias negativas. Foram anos difíceis para mim. A psicografia não pode nem deve ser cronometrada no relógio pois nunca sabemos quanto tempo uma entidade vai levar para transcrever ao papel a sua mensagem. Há algumas que escrevem muito rápido. Outras demoram muito. E não podemos atropelá-las pois o maior prejudicado é o médium. Aconteceu várias vezes comigo. Eu estar psicografando e, de repente, tocarem a sineta para avisar que o tempo havia acabado. E logo dariam início aos trabalhos de passes. Eu entendia perfeitamente essa regra mas os espíritos nem sempre aceitavam ter que se afastar sem ao menos colocar um ponto final no seu texto. E a parte que eles mais gostavam eram as despedidas. Resultado: Eles davam um jeito de me achar em casa para terminar o que haviam começado no Centro Espírita. E não me deixavam em paz enquanto eu não me dispunha a colocar papel sobre a mesa e concluir a mensagem. Tenho vários dons mediúnicos além da psicografia. E, na minha opinião, o pior deles é o da incorporação. Eu levava uma semana para voltar ao normal após cada incorporação. Os que escrevem geralmente estão em condições de escrever. Mas, os que incorporam quase sempre são sofredores e o que eles mais fazem é chorar. Cada incorporação desse tipo causa um tremendo esgotamento físico e mental no médium. Eu vivia com os olhos inchados e o semblante abatido. Meus pais sofriam junto comigo. Passaram, então, a tomar providências para me libertar desse pesadelo em que eu vivia. Eu já não estava mais suportando viver daquela forma. Comecei a ler outras obras e a frequentar outras religiões. Fui me fortalecendo aos poucos e resolvi me afastar do Centro Espírita. As incorporações cessaram e eu continuei a psicografar somente em casa sem nenhum stress. Recebi inúmeras mensagens ao longo dos anos que se sucederam e pude ajudar muitas pessoas. Acredito ter feito a minha parte. Abandonei o Centro mas o meu dom não me abandonou. Descobri que tinha segurança mediúnica para trabalhar sozinha sem a necessidade de estar cercada de pessoas que não sabiam me dar o suporte de que precisava. Os meus livros? Eu tinha aonde vendê-los. Não me preocupava com isso. Por mais de dez anos, tive uma Livraria mística bem no centro da cidade. O que eu não sabia era que, pelo fato de ter me afastado do Centro Espírita, os meus livros deixaram de ser relevantes para a Doutrina Espírita. Sempre que eu tentava colocá-los à venda em outras livrarias, logo vinha a observação sobre o meu afastamento da Doutrina. Isso parecia ter mais importância do que o conteúdo dos livros psicografados na época em que eu frequentava o Centro. Era como se eles tivessem se tornado proibidos para a leitura.

     Cada pessoa tem os seus motivos para permanecer ou para se afastar desta ou daquela religião. Eu tive os meus. E paguei um preço alto demais por dar um basta a tudo aquilo que me fazia sofrer pois assim como os livros do Neimar de Barros, os meus também se tornaram ocultos por força de uma mudança justa de direção.

                                      Elisabeth Souza Ferreira

domingo, 25 de outubro de 2020

CAUTELA

 

                                                         

       






        Às vezes, ou melhor, quase sempre, quando um homem se cuida na alimentação e no vestuário; tem bom gosto na escolha de um carro ou moto, costuma atrair os olhares femininos, ainda mais se tiver boa aparência e for simpático.  Mas o que não passa pela cabeça das pessoas num primeiro momento é o fato de que ele, muito embora, pareça ser independente e viva de maneira um tanto quanto liberal, na verdade não está sozinho pois atrás de um homem que ostenta uma pele bem cuidada, que usa roupas e calçados de marca e se locomove em veículos de alto preço, certamente deve existir uma mulher que o cuida muito para que ele se apresente dessa forma em sociedade.  E é por isso que muitas se encantam pelo embrulho que veem sem imaginar que alguém deve ter fechado aquele pacote e colocado um laço de fita bem chamativo para deixá-lo mais bonito do que realmente é.  Portanto, é preciso ter cautela porque as aparências enganam. Geralmente homem bem cuidado e seguro de si tem compromisso afetivo com alguém.  Mesmo que não revele nas redes sociais o seu verdadeiro status de relacionamento.  Aliás essa é uma tática bem comum usada pelo sexo masculino pois dá margem para cantar e ser cantado.  Atrair alguém nessas condições nunca termina bem.  Ainda mais quando existem muitos interesses em jogo.  O homem que usa dessas artimanhas para seduzir alguém frágil e carente deve pensar duas ou até três vezes antes se vale a pena colocar em risco um relacionamento baseado no amor por uma aventura passageira e longe das vistas do público.  Nada fica oculto por muito tempo.  Sempre aparece uma pontinha do véu por mais que se tente esconder. Muitas curtidas na mesma página, mensagens muito afetuosas e extensas de aniversário e conversinhas in Box fora do horário padrão podem levantar sérias suspeitas. E as consequências podem ser desastrosas.  Recomenda-se cautela. 

         O que realmente deve importar em matéria de relacionamento não são as aparências – se o homem é gordo e a mulher é um palito – se a mulher é feia e o companheiro é lindo – se há muita diferença de idade entre os dois ou não -  se um é extremamente mais alto que o outro ou se têm a mesma estatura – se são duas mulheres ou dois homens que caminham juntos porque isso é preconceito.  O que tem valor  é o sentimento que cada um carrega em si mesmo.  Essa deveria ser a única meta a ser atingida na vida a dois.  O verdadeiro tesouro a ser preservado pois nem o tempo nem os obstáculos conseguem destruir. 

                                                                Elisabeth Souza Ferreira

SINAIS DE ALERTA







         

            É impressionante como as doenças se manifestam silenciosamente no início e antes mesmo que avancem com o seu poder destruidor, o organismo humano vai apresentando diversos sinais de alerta com o intuito de mostrar que nem tudo vai bem.

        Vou relatar aqui dois casos distintos dos quais tomei conhecimento e que vale a pena compartilhar com os demais.

             Alguns anos atrás eu conheci uma moça muito elegante e cheia de vida. Pouco a pouco, ela começou a engordar como se estivesse grávida e isso a preocupou bastante porque tinha certeza de que não estava gestando um bebê. Procurou um médico na capital e foi diagnosticada como portadora da Síndrome do Intestino Irritável.  A partir daí, iniciou um longo tratamento que não surtiu efeito. Mesmo assim, tinha esperanças de melhorar até que um dia teve uma crise de falta de ar e foi levada às pressas para o hospital.  Lá constataram que ela estava com água nos pulmões e agiram no sentido de extrair esse líquido cuja origem era desconhecida.  Realizados todos os procedimentos necessários para esse fim, os médicos se reuniram para tentar achar de onde vinha esse problema.  Finalmente, descobriram que ela estava com ascite (barriga d’água”, o que indicava a presença de um ou mais tumores já em adiantado estado em algum dos seus órgãos físicos. Foram feitos inúmeros exames para chegar até o órgão doente. Chegaram à conclusão que a origem de tudo era um câncer de útero. Teve que se submeter a uma cirurgia de muitas horas para a extração do útero, trompas e ovários que também estavam comprometidos. Após a sua recuperação, teve que partir para as sessões de quimioterapia, o que lhe garantiu uma sobrevida de dois anos. Se o diagnóstico tivesse sido feito corretamente desde o princípio, acusando a presença desse tumor maligno, ela teria mais chances de cura e sobrevivência. Infelizmente ela faleceu apesar de todos os esforços para resgatar a própria saúde e bem-estar.

            Outro caso que vale a pena registrar é o de uma mulher que deixara de ser jovem há bastante tempo, aparentemente saudável que passou a se queixar de dores na região do tórax que se intensificavam à medida em que o tempo passava. Sua filha, preocupada com a situação da mãe, encaminhou-a para uma série de exames que identificassem o problema. Após inúmeras consultas, o médico verificou que ela estava com duas costelas quebradas. Os familiares queriam saber se a paciente havia sofrido algum tipo de queda ou agressão que justificasse essas fraturas.  Ao ser questionada, a mulher respondeu que não havia caído nem batido o tórax em nenhum lugar. Começaram, então, as investigações médicas a fim de descobrir a causa de tudo isso.  Após minuciosos exames, constataram que se tratava de câncer nos ossos e era esse mal que estava tornando os mesmos tão fracos e quebradiços. Como se tratava de uma pessoa de idade avançada, a família resolveu não submetê-la à quimioterapia, preferindo, então, o tratamento da Medicina Ortomolecular. Nesse tipo de tratamento, a paciente recebe uma dose grande de medicação para fortalecer o seu sistema imunológico a fim de que tenha uma qualidade de vida nos anos que se seguirem.  Esta senhora enfrentou a doença desde o princípio, passou por inúmeros problemas e somente depois de cinco anos é que veio a falecer.

           Por isso, acho que temos a obrigação de nos cuidar e ficarmos atentos aos sinais de alerta que a vida nos oferece, fazendo um check up completo por ano a fim de detectar os problemas de saúde que, porventura, já existam ou venham a surgir. “É mais fácil prevenir do que remediar”, como diz aquele ditado. E nada é mais importante do que levarmos uma vida saudável e produtiva.

                                                           



                                                                Elisabeth Souza Ferreira

         

         

A INVASÃO DO TIBET


          Em 1950 os chineses comunistas invadiram o Tibet, um país pequeno e pacífico, liderado pelo Dalai Lama, seu chefe político e religioso que, prevendo o cerco de Mao Tsé Tung para tirar-lhe do Poder, conseguiu fugir a tempo e se refugiar na Índia, onde até hoje vive e conduz tranquilamente os rumos do Budismo Mahayana. Ele teve proteção para sair fora e evitar o pior mas, o povo que lá ficou foi massacrado da pior forma possível. A primeira coisa que o comunismo destruiu naquele país foi a religião. Os templos budistas foram violados e seus monges, torturados até à morte. As monjas, por sua vez, foram estupradas centenas de vezes e mortas também. As Escrituras Sagradas, transmitidas por respeitáveis Lamas através de incontáveis gerações foram queimadas e as imagens, destruídas pelo fogo. Os templos foram transformados em prostíbulos para os soldados chineses, além de terem sido roubadas todas as suas riquezas. O povo humilde que vivia uma vida simples, basicamente da agricultura e artesanato perdeu a sua dignidade desde que o domínio comunista começou. Tornou-se escravo daquela gente fria e violenta que não admitia nenhuma demonstração de fé ou iniciativa patriótica. Acabaram com as famílias existentes, tirando as mulheres dos seus lares e obrigando-as a se relacionarem com os homens chineses para dar início a um povo miscigenado, roubando-lhes  o direito de um povo puramente tibetano.

       O ditador comunista e seu regime governamental é responsável pela morte de milhões de pessoas não só na China como em outros territórios que ficaram sob o seu domínio, inclusive o Tibet. Quem não se enquadrava aos seus moldes de governar era eliminado na hora para servir de exemplo aos demais. Ele chegou ao ponto de dizer o que e como as pessoas deveriam plantar. E sem conhecimento do solo, ditou absurdos e acabou causando grandes estragos na lavoura, o que levou o país ao caos e a sua população a fome. 





Destruíram as ideias nativas, os hábitos e cultura dos povos sob o seu jugo. E assim foi até a sua morte. Neste ano, 2019 está completando 70 anos que esse regime comunista foi implantado na China. Muita coisa mudou de lá para cá. Mas, o que mais me impressiona é que existam pessoas ainda hoje que se intitulam budistas, adoradores do Dalai Lama e suas sábias palavras e, mesmo sabendo de todos esses horrores que os chineses comunistas praticaram contra os monges e monjas tibetanos em 1950, ainda sejam a favor de um regime ditatorial que tentou das maneiras mais sórdidas destruir a religião e os costumes de um povo simples e pacífico como o tibetano. Parece, segundo os mais estudiosos, que não tiraram nenhuma lição dessa parte trevosa da História porque, na verdade, nem chegaram a conhecê-la profundamente para aprender algo com ela.

                                                             Elisabeth Souza Ferreira

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

TRISTE DENÚNCIA



       Todas as semanas eu via a mesma mulher acompanhada do marido na primeira fila de cadeiras do Centro Espírita. Ia rezar com muita devoção do começo ao fim. Sempre sorridente e aparentemente tranquila com um leve tique nervoso nos olhos. Quando ganhou o primeiro filho, levou a criança para nos apresentar e ser abençoada. Depois deste, vieram mais uns quatro meninos que a acompanhavam durante as sessões. O marido se ausentara nos últimos anos. Certa vez, contou-nos que ele estava internado num Hospital Psiquiátrico para tratamento de uma esquizofrenia. E que era impossível continuar com ele em casa. Não entrou em detalhes mas deu para imaginar o drama em que vivia. O tempo foi passando e às vezes nos encontrávamos pelas ruas. Ela foi ficando visivelmente mais envelhecida e descuidada quanto à aparência com o decorrer dos anos.

       Um dia, eu a vi triste e sem o sorriso costumeiro nos lábios. Paramos para conversar uma com a outra e logo ela desandou num choro convulsivo. Ela estava desesperada. Sozinha e com uma escadinha de filhos para sustentar, fazia o que podia para ganhar a vida. Era revendedora do Avon e vendia sempre que possível alguns produtos de beleza em troca de uma pequena comissão. O companheiro passava uma temporada em casa e outra internado. Ela mantinha o lar com sacrifícios. Não era fácil. Uma tarde, deixou os três filhos menores por breves minutos enquanto ia cobrar uma dívida nas redondezas e quando voltou, percebeu que havia duas mulheres e um homem com seus filhos, aguardando o seu retorno. Era o pessoal do Conselho Tutelar que havia recebido uma denúncia por parte de vizinhos de que ela estava habituada a deixar as crianças trancadas em casa para sair e beber nos bares da vida. E diante disso, eles se achavam no direito de retirar os menores da sua guarda até que a situação se normalizasse. Pegaram os três meninos que estavam assustados, chorando e se agarrando às roupas da mãe para não serem levados por aquela gente desconhecida e simplesmente foram embora, ignorando os apelos daquela mãe solitária e aflita que tentava em vão entender o motivo daquela violência insana. O mais novo ainda era um bebê de colo que ela amamentava com todo amor como fizera com todos os demais. Era pobre mas rica de sentimentos e estava disposta a fazer qualquer coisa para ter os seus rebentos de volta. Eram seus companheirinhos de jornada terrena, seus únicos motivos para lutar e sobreviver. Chorou a noite inteira sem ter um ombro amigo onde reclinar a cabeça. No dia seguinte foi até a sua mãe para contar-lhe o ocorrido e abraçar bem forte os filhos mais velhos que lá se encontravam. Estes foram poupados pois não estavam juntos com os outros quando da visita dos conselheiros. Se estivessem, também teriam sido levados daquela forma fria e repentina.

       Não sei se ela tinha conhecimento da Lei ou se ignorava a mesma, agindo de boa fé sempre que saía para entregar algum produto ou cobrar alguma encomenda. A verdade é que seus filhos não estavam abandonados. Ela não os trancafiava, tanto é que eles puderam abrir a porta para os conselheiros tutelares. Não estavam chorando nem mal alimentados. Estavam brincando e assistindo TV. Todos limpinhos. Esperando por ela que não se demorou. Infelizmente teve o azar de ser denunciada por algum desafeto seu nas imediações e sofrer a retirada de suas crianças de seus braços, de seu colo, do seu lar. Moradora de um bairro distante do centro da cidade, não sabia para quem apelar. Gritava, chorava, se desesperava em busca de seus pequenos de um lado para o outro. E assim passou mais de um ano distante de seus filhos, sem saber aonde estavam nem na companhia de quem estavam. O que lhe informavam era que as crianças estavam separadas umas das outras, em casas de conselheiros tutelares e totalmente sem poder entrar em contato com ela. Quando ela terminou de me contar o seu drama em plena rua, eu fiquei chocada com o seu problema. Não sei se a versão dela era a verdadeira mas acho que ela não merecia ter passado por tudo isso. Foi uma violência inconcebível e traumática tanto para as crianças como para essa pobre mãe. Aos poucos, sua vida foi voltando ao normal quando seus meninos foram devolvidos. Desde então, muitos anos se passaram.

       Este ano, tive a grata satisfação de vê-la trabalhando num supermercado e tratando a todos com o mesmo sorriso com que a conheci. As pessoas que passavam por ela nem de longe poderiam imaginar que, por trás daquele semblante amável e gentil muitas lágrimas rolaram, queimando seu coração de tanta dor... Eu bem posso imaginar as cicatrizes profundas que aquela mãe, aquela pobre mulher guerreira carrega nos recônditos da sua alma...                                                          

                                               



                                                                 Elisabeth Souza Ferreira






 

                       

OBSERVANDO O PERFIL




      Observando o perfil de muitas mulheres que são amigas de amigos meus, pude perceber que, ou elas ocultam o seu verdadeiro estado civil para angariar simpatizantes do sexo oposto ou realmente estão sem um padrão definido no tocante aos seus relacionamentos. E o número é bastante considerável ao se comparar com o dos homens que, quase sempre, têm compromissos sérios. É uma disparidade enorme. Um excesso de mulheres para uma escassez de homens. São muito poucas as que ostentam a vida em família e lares aparentemente perfeitos. Mas, sabemos que nada é perfeito neste mundo. Atrás de muitos sorrisos, escondem-se muitos conflitos íntimos e as aparências procuram enganar aos que não se detêm numa observação mais apurada. Em contrapartida, outras exibem roupas inadequadas que deixam o corpo à mostra numa tarefa provocativa de sedução. Em certos casos, dá para sentir o desespero para fugir da solidão como se o sexo fosse preencher o vazio de uma alma atormentada e sedenta de amor.

      Diante de tantas ofertas na internet, o comportamento masculino mudou muito. Mesmo casados, a grande maioria gosta de pular a cerca uma vez ou outra para experimentar se a comida do vizinho é melhor do que a sua. Mesmo tendo a melhor ração em casa, há os que se dedicam a revirar o lixo em busca de novidades. Nos tempos do falecido Orkut, havia a opção de um relacionamento aberto. E muitos comprometidos aderiram a essa ideia enquanto as suas companheiras ainda não sabiam manejar muito bem os segredos de um computador. Paqueravam, marcavam encontros e por aí afora. Sem que as esposas desconfiassem de nada.

       Mas eram outros tempos.

     Hoje, no entanto, os que simplesmente namoram, mesmo sem levar o relacionamento tão a sério, parecem estar, eternamente, buscando carinhas novas de olhos claros para adicionar  no Facebook, sempre tendo o cuidado de colocar as que julgam ser desimpedidas e com interesse no sexo oposto. E o número de novas amigas vai crescendo... Só que as namoradas não são tolas. Elas cuidam, analisam e investigam mais do que o FBI e acabam descobrindo todos os passos das suas possíveis rivais nos mínimos detalhes que nem os seus parceiros conseguem chegar a tanto. Essa busca incessante, por parte dos homens e das mulheres, demonstra insegurança em relação aos seus sentimentos pois com a modernidade, já não há mais garantia de que alguém permanecerá ao seu lado por muito tempo. Muitos valores se perderam à medida em que o mundo foi evoluindo. Os homens raramente se concentram nas parceiras que estão ao seu lado, preferindo lançar um olhar curioso para as moças que estão distantes em perfis chamativos, porém, vazios.  Mal sabem eles que a vida é curta e que as mulheres que oferecem um amor verdadeiro são raras. Não vale a pena arriscar um relacionamento sincero e puro por uma ilusão passageira e sem grandes chances  de continuidade.

                                                                 Elisabeth Souza Ferreira


NADA JUSTIFICA...



           Quando iniciei o meu desenvolvimento mediúnico no Centro Espírita Bezerra de Menezes, tive a oportunidade de conhecer e conviver com grandes mulheres que muito me ensinaram com seus exemplos e experiências. Dentre estas, uma bem jovem e mãe de três filhos pequenos, que mais tarde vieram a ser meus alunos do curso de evangelização, deixou-me bastante intrigada desde o começo. A primeira impressão que se tinha ao observá-la, era de que se tratava de uma pessoa normal, elegante e bonita. Mas, quando ela falava, aparecia um papo em seu pescoço e sua voz ficava um pouco rouca. À medida em que o tempo passava  e ganhávamos  um certo grau de intimidade uma com a outra, certa vez, criei coragem e perguntei-lhe se ela sofria de algum problema na tireóide que justificasse aquela saliência sempre presente nas conversações. Ela contou abertamente para todo o grupo a razão daquilo acontecer. Deixou-nos pasmos com a sua explicação. Na verdade, não era nenhuma doença. Ela sofria tanto por causa de seu casamento fracassado, marido violento e viciado em álcool que, um dia, não aguentando mais tanta pressão, resolvera tomar soda cáustica para ver se conseguia ir logo para o outro lado. Como não conseguira o seu intento, tinha que conviver, além do inferno em família, com a sequela que ficou de sua atitude impulsiva e nefasta. Naquela altura, ao ver a nossa expressão horrorizada de um silêncio estarrecedor e, antes que fizéssemos a pergunta que não queria calar, ela nos disse que não se separava do marido porque era espírita e esse era o seu carma. E seguia a vida aos trancos e barrancos, tendo três crianças para criar e sofrer junto com ela. Morou bastante tempo em Passo Fundo e depois se mudou para Porto Alegre, a princípio e acabamos perdendo o contato. Não sei o que aconteceu com ela depois disso. Outro caso semelhante foi de uma senhora muito querida e simpática que participava das nossas reuniões e tinha uma visível aparência de quem sofrera um derrame muito severo pois estava cega de um olho, o rosto repuxado para um lado como se tivesse tido um espasmo grave e uma certa dificuldade para caminhar. Certa ocasião, contou-nos que tinha sido uma mulher muito bonita antes de sofrer um ataque violento do marido (alcoolizado provavelmente) que a levantou pelo pescoço e fincou-lhe a cabeça repetidas vezes contra a parede, o que fez surgir, dentro de pouco tempo, um câncer na cabeça. O tumor pôde ser removido com sucesso mas o fato de ter passado por uma cirurgia delicada deixou-lhe essa sequela terrível para o resto da sua vida. Ela também dizia que não se separava porque era espírita e esse era o seu carma. Essa grande guerreira aguentou firme o tempo todo e hoje está bem melhor, viúva e seguindo em frente a sua vida, estudando e fazendo as suas peças de artesanato. Estes dois casos servem para ilustrar o drama por que passam milhares de mulheres em todo o mundo que sofrem violência doméstica e se calam em nome da religião, com medo da danação eterna. Isso sem falar nos outros tipos de violência que ocorrem nas ruas, nos ônibus, nas escolas, no Brasil e no resto do mundo que não são denunciados e, por isso mesmo, nem sempre chegam ao nosso conhecimento.

             O mundo está evoluindo, ou pelo menos, era para estar com toda essa tecnologia avançada e, portanto, não era mais para se ter notícias impactantes como essas que diariamente nos são apresentadas por todos os veículos de comunicação, causando-nos uma sensação de insegurança e impunidade.

                O machismo está fora de moda mas ainda hoje se percebem uns doentes que insistem em tratar as companheiras como seres inferiores, que não têm a mesma capacidade intelectual que eles acham que têm e isso para justificar escravizá-las na cozinha e nos afazeres domésticos quase sempre enfadonhos e estressantes.

            O machismo está fora de moda mas ainda hoje se encontram uns doentes que não respeitam as colegas de trabalho e soltam piadinhas indecorosas que, segundo a visão deles, deveriam ser consideradas como um elogio e não como um verdadeiro assédio. O que para eles é engraçado, para as mulheres é nojento e chocante.

               O machismo está fora de moda mas ainda hoje se acham uns doentes que vivem com a mentalidade pré-histórica que, quando sentem falta de uma fêmea, agarram à força a primeira que aparecer em seu caminho, esquecendo-se, ou melhor, ignorando que seria bem mais fácil e aprazível conquistá-la com a simpatia e bons modos.

               O   machismo está fora de moda mas ainda hoje existem uns doentes que se acham no direito de abusar das enteadas, das afilhadas, das próprias filhas e das filhas dos vizinhos porque estão dentro da sua própria casa e por isso mesmo disponíveis para tirarem vantagem dessa situação.

               



            O machismo está fora de moda mas ainda hoje têm uns doentes que consideram as mulheres como propriedades particulares, verdadeiros objetos adquiridos numa negociação e, por isso mesmo,  não admitem ser abandonados ou trocados por outro da mesma espécie, submetendo-as a toda sorte de violência, muitas vezes, fatal.

             Nada, absolutamente nada, justifica a violência do homem contra a mulher; do forte contra o mais fraco; do poderoso contra o indefeso. Nenhuma mulher deve aguentar calada o exercício machista sobre si mesma. Nenhuma religião vai salvá-la. Ninguém na rua ou dentro de casa irá acudí-la se ela não der o primeiro grito de socorro.  Ninguém poderá adivinhar o drama em que ela vive se não tiver a coragem  de abrir a porta e sair do inferno em busca de conforto e paz. Ninguém tem obrigação de tolerar os maus tratos a vida inteira. Ninguém precisa fazer o que não tem vontade. A violência só pode ser evitada quando a mulher deixa de ter medo e resolve lutar. Lutar, em primeiro lugar, pela sua integridade física, pela sua liberdade, pelo seu direito de ir e vir, pela sua voz e vez, pela sua dignidade e de seus filhos, por uma sociedade mais justa. E essa luta não se ganha ao lado do opressor, passando-lhe a mão na cabeça na esperança de que amanhã ele será melhor. Essa luta se vence bem longe dele, denunciando a violência, afastando-se dela porque ninguém vem ao mundo para sofrer e sim para viver em busca dos mesmos direitos a liberdade, a felicidade e ao amor.

                                                           Elisabeth Souza Ferreira

                                        Reflexão para o Dia Internacional da Mulher

VÁRIOS CAMINHOS


        Desde criança vivenciei diversas experiências psíquicas que me permitiram sentir e visualizar a realidade existente em outras dimensões, desenvolvendo assim uma fé inabalável em Deus e a busca incessante para encontrá-lO pelos mais diferentes caminhos.







       Ao longo dessa caminhada, me deparei com situações bizarras e muitas vezes constrangedoras.

     Certa vez, cheguei num alojamento onde ficaria hospedada por alguns dias para realizar um retiro espiritual. O espaço físico era enorme. Havia uma infinidade de beliches espalhadas por todas as direções. A moça da Secretaria onde entreguei a minha ficha de inscrição devidamente paga me dissera que eu poderia pegar qualquer cama que estivesse desocupada. Mas nenhuma parecia estar disponível. Havia toalhas e roupas estendidas por cima de todas as camas.  Um verdadeiro rebuliço.  Não existiam guarda-roupas.  Apenas as malas e sacolas dos participantes ficavam ao lado ou próximas de cada vaga. Andei por tudo e não encontrei nenhum lugar onde pudesse me sentir a vontade para deitar depois da longa viagem que fizera.  Lá dentro tínhamos que andar só de meias porque era proibido usar qualquer tipo de calçado.  Eles ficavam do lado de fora numa estante baixinha próxima à porta de entrada.  O banheiro era coletivo. Tinha a ala feminina e a ala masculina.  Mesmo se a pessoa fosse acompanhada, na hora de dormir tinha que se separar do seu companheiro e só voltar a encontrá-lo na hora das refeições ou das orações. Ao retornar à Secretaria, falei com a moça novamente e disse não ter achado nenhum lugar livre para acomodar as minhas coisas. Ela, então, se dispôs a me acompanhar até lá  e me apontar a que não estivesse ocupada. Caminhamos juntas até os fundos do enorme pavilhão e voltamos. Ela estranhou mesmo o modo como estavam estendidas as toalhas e reafirmou para mim que existiam camas liberadas mas também não estava sabendo identificá-las. Então, puxou uma toalha que cobria a cama de cima de um dos beliches perto da porta  e disse para mim que eu poderia ficar com aquela. Garantiu-me que não haveria problema. Sendo assim, coloquei meu pijama e deitei. Minha mala ficara ao lado na parte de baixo. Estava exausta. Dormi algumas horas. Acordei com alguém resmungando ferozmente por perto. Inclinei-me para ver quem era. Havia uma mulher aparentemente muda olhando para mim com olhos raivosos e gesticulando nervosamente enquanto soltava uns sons grotescos.  Interpretei aquilo como o contrário de boas vindas porque parecia que eu tinha pegado a cama dela. Mas continuei ali e só saí bem mais tarde. Cada vez que eu me encontrava com a dita cuja pelos corredores ou na sala do refeitório, resmungava para mim e me olhava cheia de ódio. Senti um mal-estar porque não tive culpa. A secretária me falou que não haveria problema. No segundo ou terceiro dia é que fui entender o comportamento da tal mulher. Ela havia feito votos de silêncio. E por isso é que não podia falar comigo. Mas não era muda como eu pensava. Mais tarde fiquei sabendo o porquê de sua indignação. A queridinha não gostava que ninguém ocupasse a cama de cima de seu beliche. Só por isso. O cúmulo do egoísmo. O beliche não era dela.  Achei um absurdo. De que adianta votos de silêncio se o olhar está destilando ódio para todos os lados? O que faz uma pessoa desse tipo achar que votos de silêncio são suficientes para um retiro espiritual se o coração está tomado pela raiva? Não são os votos de silêncio que vão fazê-la evoluir.  O mínimo que teria que treinar ali seria a paciência e a compaixão. Foi terrível.

     Em outra ocasião, emprestei um imóvel para um grupo budista se reunir uma ou duas vezes por semana. Eles tinham um altar onde colocavam oferendas de água, incenso e alguns alimentos para as deidades. Até aí, tudo bem. Acontece que uma noite entrou um rato e se escondeu num dos cantos e ninguém conseguia achá-lo. Virou uma comédia porque eles não queriam que o rato fosse morto porque segundo os ensinamentos budistas, não se deve matar nenhum ser vivo. E eu não concordei com isso. Como é que ia permitir que fizessem criação de rato lá dentro? Reclamei mas não adiantou. Uma pessoa amiga me sugeriu  colocar pedaços de queijo com veneno. Pois bem, ela foi lá e passou em um dos lados apenas. O bicho era tão esperto que virava o queijo e comia apenas a parte que não tinha o veneno. A casquinha envenenada ficava lá para todo mundo ver.  E o rato engordando  cada vez mais. E a gente não sabia aonde o bicho tinha se escondido. Um dia eles reclamaram que havia um cheiro terrível de urina na cozinha e que só poderia ser dos meus cachorros que ficavam nos fundos. Pediram-me para eu dar um jeito. Fui até lá e mostrei que havia lavado tudo. Dos meus cães não era. Claro que só podia ser a urina do rato. Descobri que ele estava escondido atrás de um velho fogão de seis bocas. Mas ele não ficava só lá. Ele perambulava por toda a casa. Havia cocô dele por tudo. Era nojento. E dava para calcular que era um bicho grande. Certo dia, eu estava lá e ouvi barulho num dos quartos. Corri e fechei a porta. No quarto ficaria mais fácil capturá-lo. O bicho já tinha estragado a porta. Chegou a tirar a tinta da mesma de tanto arranhar. Veio um amigo meu com uma gaiola de hamster para tentar pegá-lo. Ficou sozinho no quarto arredando guarda-roupa, sacudindo cortina e empurrando cômodas para todos os lados até que o localizou. Pediu uma vassoura. E depois de algumas vassoradas, o rato voou da cortina para cima de uma cômoda. Mas não morreu. Sua barriga estava arfando. Meu amigo mais que depressa o colocou na gaiola e o levou embora. Soltou-o no mato com vida e nos livramos dessa criatura que só fazia sujeira, além do perigo em transmitir doenças. Isso é mais um exemplo do quanto as pessoas tomam ao pé da letra os ensinamentos deixados pelos mestres do passado.  Ora, então, se não podemos matar nenhum ser vivo, teremos que deixar uma cobra ou aranha venenosa picar uma pessoa sem nada fazer para impedi-la? Teremos que deixar a vontade um enxame de abelhas picar uma criança que não pode se defender? Teremos que suportar picadas dos mosquitos borrachudos no verão sem nada usar?  Não há ninguém nesse mundo que não mate todos os dias sem querer algum ser vivo. Basta caminhar na rua ou na grama. Não dá para contar a quantidade de formigas que morrem sob os nossos pés enquanto caminhamos em casa ou no trabalho, na escola ou na própria Igreja. Acho que a nossa preocupação  deve se voltar mais às milhares de pessoas inocentes que são mortas diariamente  e o que podemos fazer a respeito para evitar o avanço dessa criminalidade galopante que o nosso país enfrenta nos últimos anos.  Baratas, moscas, cobras, aranhas e escorpiões  não devem ser a nossa prioridade. Há animais, contudo, que merecem os nossos cuidados.  Animais de estimação que nos acompanham sempre e não fazem mal a ninguém. Esses sim merecem o nosso respeito e podemos defender a qualquer custo.

        Outra ideia que eu considero errônea em várias religiões é que se a pessoa quiser se afastar depois de ter frequentado por um certo período, receberá uma avalanche de forças negativas que a impedirão de alcançar a felicidade no futuro.  Quando eu comentei no Centro Espírita que conseguia sair fora do corpo todas as noites fui severamente repreendida pelos mais velhos para que não voltasse mais a fazer isso sob pena de me perder no astral e não poder mais retornar. Ora, falavam isso sem conhecimento de causa como se eu pudesse evitar a saída noturna. Todos nós saímos do corpo quando dormimos. A única diferença é que eu saio de forma consciente e a maioria das pessoas sai sem perceber que está saindo. Depois que acordam contam ter sonhado que estiveram em outros lugares, que se encontraram com pessoas vivas e mortas, enfim, e tudo parecia tão real... E era. Não há como nos perdermos. Enquanto o nosso corpo tiver vida, ou seja, houver bateria em nosso veículo carnal, não podemos nos afastar completamente, apenas de forma temporária. Saímos e voltamos. Estamos presos a ele por um cordão umbilical invisível que só se romperá com a morte. Uma coisa é a teoria. Outra é a experiência prática. Eu tenho a prática. Depois, quando eu falei que iria deixar de frequentar as sessões espíritas em definitivo fui advertida de que iria perder todos os meus dons caso isso realmente acontecesse.  Que eu ficaria sem proteção nenhuma e que os maus espíritos tomariam conta de mim. Pois foi exatamente o contrário que aconteceu. Saí do Centro Espírita e passei a estudar e frequentar diversas religiões  e automaticamente as perturbações que eu tive naquele período acabaram e eu pude me sentir livre e forte para comandar a minha própria vida. Não só não perdi os meus dons como apareceu outro que eu nem sabia que tinha e passei a trabalhar com ele por um longo período. As religiões não gostam de perder os seus fieis. É por esse motivo que tentam amedrontar os frequentadores para que não abandonem aquele caminho. Como se aquele caminho fosse o único verdadeiro. Ora, não existe mais nenhuma religião que possa se arvorar ter a absoluta verdade. Todas estão deturpadas pelos próprios homens que as conduzem. A única coisa verdadeira que deve prevalecer sempre e acima de tudo é a fé em Deus. Eu não deixei de acreditar nos ensinamentos espíritas e nem descarto o conhecimento budista que adquiri mais tarde.  Simplesmente não quero me confessar como adepta dessa ou daquela religião. Tenho as minhas ideias próprias e não aceito tudo o que me oferecem. Prefiro ser eclética. Ir aonde me der vontade. Acreditar no que eu sinto ser verdadeiro.

       Cabe às pessoas buscarem o melhor caminho segundo o seu entendimento. O que é bom para mim, talvez, não seja o ideal para os outros. E o que é perfeito para os outros, talvez, seja ultrapassado para mim. Portanto, não julgo quem fica nem quem sai. Estamos nesse mundo para aprender e, através da aprendizagem, evoluímos. Cada um no seu ritmo. Sem apressar as coisas porque a paz é fundamental.

                                                             Elisabeth Souza Ferreira